
Sofrimento Nordestino
O Futebol nordestino terá, em 2016, três times participando na Série A. São eles: Sport, SantaCruz e o Vitoria.
Dos três citados o sport é o único (até o momento) considerado não favorito a ser rebaixado para a serie B. Algo diferente do Santinha e do Vitória. Mas, afinal de contas, por que os times do nordeste sofrem tanto para se manter na elite? Por que dificilmente vemos times nordestinos brigando forte, seja na Copa do Brasil ou na Série B?
Temos diversos times de tradição no nordeste. Além dos que estão na serie A, temos também o Bahia, o Náutico, o Ceará, entre outros. Entretanto, raríssimas vezes, vemos mais de dois times jogando na elite. Mais do que isso: é comum só ver um time e ainda sim com campanha mediana pra baixo. Sempre esperamos que os times nordestinos sejam meros coadjuvantes na elite em que, volta e meia, pode dar um susto, dar uma sambadinha ali no G4, mas depois cairá de produção.
Será que é o fator financeiro? Será que é o fator “Rede Globo”? Será que é culpa da arbitragem? Qual ou quais motivos levam ao futebol nordestino ter tamanha dificuldade no futebol nacional?
O maior vilão dos clubes nordestinos não são os fatores citados, que, apesar de sim, contarem bastante, não são o principal “x” do problema. A principal dificuldade desses times é a sua localização geográfica. O território brasileiro é enorme, pra se ter uma ideia, cabem cerca de 7 países do tamanho da França SÓ no nordeste, o que leva os clubes a ter um enorme desgaste físico e também psicológico em suas longas viagens ao sul/sudeste (onde se encontram 17, dos 20 times que vão disputar a serie A).
Os clubes do “eixo” costumam reclamar bastante do calendário, argumentando ser desgastante e muito puxado, jogos em cima, falta tempo para preparo. Imagine então para os clubes nordestinos. Se clubes como Flamengo, Cruzeiro, Corinthians, Atlético PR e afins acham ruim o desgaste de viajar quarenta minutos a uma hora pra jogar em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, etc.. Imagine então o desgaste que sofre o Sport ao ter de viajar para todos esses lugares (com voos de aproximadamente 3h).
Lembro bem de uma reportagem de 2007 em que o América de Natal (o time disputou a Série A naquele ano) percorreu uma distância equivalente a uma volta ao mundo viajando para disputar jogos no Brasil. Imaginem o quão desgastante foi para o time potiguar disputar a Série A e como continua sendo cansativo disputar as Séries B e C. São longas jornadas de viagens que contribuem negativamente no desempenho de qualquer time nordestino.
O fator financeiro certamente contribui também. Graças a uma boa quantia que o Sport recebe da adidas, o time pode montar um elenco razoável e conseguiu terminar o campeonato em uma boa classificação. Chegou até mesmo a disputar o G4, mas não teve forças para se manter por lá.
Esse é outro fator para que clubes de menor expressão não consiguem ganhar espaço em nosso futebol. Pegarei o exemplo do campeonato inglês para dar certa referência. Na Inglaterra, volta e meia nos surpreendemos com times da quarta e/ou quinta divisão abaixo da Premier League vencendo alguns jogos contra os gigantes ingleses ou até mesmo bem estruturados o suficiente para jogar uma liga de porte nacional. No Brasil é RARISSIMO ver clubes de menor expressão (como Duque de Caxias, São Bento, Baraúnas-RN, São José-PR, Anápolis-GO) aparecerem e fazerem algo surpreendente. A Inglaterra não tem 10% do tamanho do Brasil. Lá, os clubes podem viajar de “cabo a rabo” sem ter nenhum grande desgaste ou até gasto financeiro, diferente do nosso País. Aqui, o esforço para certos clubes é sofrível demais. Não é uma questão de saber investir ou desorganização de um modo geral, mas sim que é muito contra mão tais clubes de pouco aporte financeiro conseguir fazer viagens tão longas em que os gastos não são poucos. Os clubes não recebem incentivos de grandes empresas, TVs, CBF e afins. Eles vivem a mercê da própria sorte.

Algo que mudou um pouco esse cenário foi o canal Esporte Interativo ter adquirido os direitos da Copa do Nordeste. Pois, além do aporte financeiro que ajuda bastante a alguns clubes de menor expressão do NE, o canal também faz um trabalho de marketing exaltando essa copa regional e alguns clubes. Ele também transmite os jogos de campeonatos realizados em Estados que não são tão populares como São Paulo e Rio de Janeiro – por exemplo: a Copa Verde. Obviamente, ele não faz isso por ser bonzinho, mas sim porque também tem retorno. Ela ganha o carinho destes torcedores, ganha audiência e consegue crescer com isso.
Então, qual seria a solução? Sozinho eu não posso apontar uma. Isso cabe muito aos clubes se unirem e a própria CBF (que deve dar mais atenção a tais clubes). Além disso, teria que haver um grande debate sobre isso. Certamente, nosso formato não ajuda em nada. Ele só faz crescer os maiores e diminuir os menores. Nosso futebol poderia ser muito maior do que ele é se existisse um real interesse em se fazer algo para mudar essa realidade.