
O brilhantismo do Barcelona
De uma forma ou de outra – como fã, jornalista, ou qualquer coisa – há muito tempo já acompanho futebol. Na noite de domingo, no Camp Nou, fiquei convencido de que eu vi os melhores cinco minutos contínuos de futebol na minha vida.
A partir do momento que Neymar deu uma carretilha e passou pelo jogador do Celta, via o brilho de como Lionel Messi conseguiu a penalidade, ao gênio da audaciosa cobrança de penalidade e a visionária combinação com Luis Suárez e o gol que Ivan Rakitic fez 5-1, isso na verdade já era cerca de quatro minutos e 40 segundos.
Quatro minutos e 40 segundos para se apaixonar. Técnica, ousadia, coragem, invenção, dois gols, sagacidade, mostravam como o Barcelona faz o melhor futebol do mundo.
Não foram os quatro ou cinco minutos mais dramáticos que já presenciei. Esse aconteceu no Camp Nou, quando o Manchester United transformou uma desvantagem de 1-0 em uma vitória por 2-1 na final da Liga dos Campeões.
O empate do Liverpool com o Milan após estar perdendo por 3-0 na final da Champions League contra o Milan é cronometrada por pouco mais de 60 segundos, isso também foi mais dramático do que o Camp Nou na derrota de domingo.

Há outros momentos de surpresa que marcaram minha vida. Os cinco minutos antes de ser entregue a primeira folha oficial da equipe para a final da Copa do Mundo de 1998 – Edmundo dentro e Ronaldo fora, mas para a minha surpresa Ronaldo é relacionado cinco minutos antes da bola rolar. Marco Materazzi insultando Zinedine Zidane, e o francês lhe dando uma cabeçada, em seguida, o árbitro aproxima-se e o expulsa, e assim Zizou está fora de sua ultima copa. Eu presenciei isso, em 2006; eu fiquei atordoado.
Eu poderia falar dos mais decepcionantes cinco minutos, os mais previsíveis, o mais assustador – mas este foi o melhor.
Preocupa-me muito o fato de haver um grande número de pessoas que são incapazes de desfrutar destes momentos estelares. Como Neymar. Ele foi atacado por alguns jogadores do Athletic (e alguns espectadores) por tentar um movimento ousado durante a vitória na final da temporada passada no Camp Nou pela Copa do Rei.
O drible de Neymar, saiu novamente do mesmo estilo. Mas aqui está a principal coisa sobre estes espectaculares cinco minutos. Sim, parecia vistoso. Sim, seus marcadores, Hugo Mallo e Josep Sene, poderiam ter sentido humilhados ou enfurecido. Mas aquilo tinha um propósito.
Já algumas pessoas não aprendem que, além de cuidados básicos de saúde e fitness, uma das coisas mais importantes e excepcionais são a necessidade da criação de espaço e criatividade para aterrorizar seus adversários?

Claro, Neymar fez uma exibição de técnica que os fãs do Barça e qualquer outro em todo o mundo poderia dizer “oooh!” e “aaah!”. Foi um espectáculo em si. Mas o ponto crucial foi que o brasileiro usou o drible para sair da marcação de vários jogadores e ficar em condições de passar a bola para Messi. Teve objetivo.
Para os jogadores do Celta foi dado um lembrete de que tudo o que tentarem fazer, Neymar pode ter um truque na manga para despista-los. Habilidade que faz os marcadores pensarem – devo chegar perto? Vou na bola? Dou carrinho? Faço a falta? Espero alguém ir comigo? Ela provoca uma confusão mental que lhe dá segundos preciosos em um futuro um contra um ou um ou até dois contra ele.
Quarenta segundos depois, Messi teve a bola nos pés. Ele foi marcado ao longo dos últimos três encontros entre os clubes, Jonny Otto tinha Messi completamente preso. O Celta venceu dois desses jogos, 1-0 e 4-1, por pouco perdeu o terceiro em um cabeceio de Jeremy Mathieu. Desta vez, a posição de Otto, de frente para Messi e apertada à linha de fundo, poderia ter significado que a jogada pararia ali – o trabalho do defensor bem feito.
Em vez disso, o travesso esperou até que o equilíbrio de Otto ficasse todo em seu pé direito, deixando-o semi imóvel por apenas uma fração de segundo. Tempo suficiente. Messi deu um drible da vaca em Otto. Mesmo antes de a falta ser cometida e a ganhar a penalidade, Messi já havia provocado aquele grito de espanto, apreciação, devoção que saiu das 72.000 pessoas que sabiam que estavam vendo um gênio.
Quanto a cobrança, ao estilo Johan Cruyff e Jesper Olsen, que me desconcerta saber que alguns espectadores em mídias sociais pensem que foi desrespeitoso. Qualquer um que não pode apreciar a calma, habilidade, ousadia e visão precisa aprender um pouco mais de futebol.

A primeira coisa a se dizer – talvez a única coisa a se dizer é que a foi combinado. Foi também bastante intencional – Dani Alves disse após o jogo que “eu sabia que eles tentariam fazer isso, porque tínhamos falado sobre isso no vestiário.” Luis Enrique ficou maravilhado com a cobrança.
Alguns vencedores de Copa do Mundo e da Liga dos Campeões falaram sobre o assunto e a mensagem é claramente que “É um grande teste de coragem, caráter, mentalidade, psicologia – e técnica.”
Se esta foi a melhor maneira de garantir um objetivo, ótimo. Todo o estudo, planejamento e trabalho feito pelo goleiro do Celta Sergio Alvarez foi inútil.
Se tivesse sido Celta que tivesse cobrado da mesma forma eu me sentiria igual, talvez ainda mais alegre. Se tivesse sido um gol da mesma forma contra meu time de coração ainda sim eu gostaria de ver.
Isso é o que faz o futebol ter a graça que tem.
Os cinco minutos foram selados por Suarez, o artilheiro ainda deu um passe divino para Ivan Rakitic, que por sua vez mostrou sangue frio em suas veias para encobrir elegantemente o goleiro do Celta, coloque agora um selo de qualidade sobre os mais brilhantes cinco minutos de futebol que eu já presenciei.
Se você ainda não vê assim, logo vai ver. Se você adorou, assista o próximo jogo – eles vão continuar tentando fazendo algo semelhante. Se você não entendeu, não gostou ou achou que era “média” e foi “desrespeitoso”, honestamente, fico triste por você, porque você não entende de futebol.