Neymar tem que ficar no Barça

Neymar é um craque que o Barcelona certamente fará de tudo para não perder. As constantes investidas dos principais clubes do mundo para tirá-lo do Camp Nou assustam, mas a vontade do brasileiro de permanecer e continuar fazendo história ao lado de Messi eSuárez é maior que qualquer coisa (pelo menos por ora, claro). Ele é um xodó dos culés. Não só pelo poder de decisão, mas pela maneira com a qual se comporta em campo e que apaixona qualquer catalão que frequenta o estádio.

 A ponta esquerda, que já foi de Ronaldinho, hoje é de Neymar. A magia está ali.

É esse “descompromisso disciplinado” típico do futebol brasileiro que seduz uma torcida acostumada a, nos últimos anos, reverenciar a seriedade de Messi. O argentino se diverte em campo, é lógico. Mas nossos hermanos enxergam esse esporte de um jeito diferente. Para eles, que viram Carlos Gardel crescer, o futebol não é motivo de festa e alegria. O jogo tem que ser disputado com responsabilidade, acima de tudo, e muita garra.

O Barcelona de 2014/2015 foi, em primeiro lugar, uma obra de Messi. Mas Neymar teve umaimportância fundamental. Marcou, por exemplo, gols em todos os jogos a partir dasquartas de final da Liga dos Campeões da UEFA. Os gols contra o Bayern de Munich nas semifinais e contra a Juventus na grande decisão de Berlim foram simbólicos.

Em todos, Ney concluiu os contra-ataques barcelonistas com perfeição. Graças à suaagilidade para se desmarcar às costas da marcação, o camisa 11 pôde se deslocar com velocidade para permanecer em um bom ângulo e concluir as jogadas. Essa aspecto já é notado desde a época de Santos, mas os descompactados sistemas defensivos do futebol brasileiro colocavam em dúvida a capacidade de Ney de se mover com essa facilidade na Europa.

Quando o Barcelona de Luis Enrique enfrenta um adversário de linhas retraídas e blocos baixos, Neymar se posiciona o mais adiantado possível. Às vezes, até na mesma altura que Suárez. A quantidade de bons passadores no meio-campo e o fato de Messi pensar mais o jogo que o santista força, naturalmente, sua ida à última zona do ataque. Mas essacaracterística de se adiantar aos marcadores é uma das armas mais eficazes doBarcelona. Não à toa, os lançamentos em diagonal de Messi (que, verdade seja dita, foram meio sistema de jogo dos blaugranas na temporada passada) davam certo. O Barça criava uma chuva de oportunidades da mesma forma de cinco em cinco minutos.

Para não deixar sua equipe monótona, Luis Enrique alterou alguns mecanismos para a atual campanha. O líder do Campeonato Espanhol joga com maior controle e ordem no meio-campo, que visivelmente ganhou mais protagonismo no esquema, perdendo levemente em verticalidade. Nada que abalasse a estrutura de jogo, pelo contrário: Busquets e Iniestafazem grande temporada e Neymar pôde ganhar um companheiro de peso na esquerda. Porém, de uns jogos para cá, o técnico asturiano tem acenado com a velha fórmula de atacar mais diretamente. O bom resultado conquistado em Londres contra o Arsenal, na ida das oitavas da Champions, permitiu a Lucho planejar seu time de uma outra maneira na volta no Camp Nou.

O técnico do ano da FIFA dividiu o Barcelona em duas partes. A primeira tinha o sistema de defesa e o meio-campo formando uma linha de 4+3. A segunda, o ataque, do trio MSN.Nunca antes no período de Luis Enrique, o trivote teve total liberdade de movimentação enenhuma responsabilidade defensiva. E isso independia do fato do Barça estar sem a bola. Neymar foi, talvez, o homem mais adiantado e ocupou uma posição centralizada, sendo a flecha para os golpes culés, armados pelo arco Messi. Os Gunners tiveram momentos de domínio, sobretudo pelo lado direito com Alexis Sánchez e Bellerin subindo ao ataque, sobrecarregando a zona de Alba, nada auxiliado. O lateral era um peão sacrificado em troca de gerar espaços e abrir a porta a Neymar. O brasileiro deu razão à escolha do ex-meio-campista: marcou um gol, participou de outro e foi um pesadelo para o miolo de zaga londrino.

Na realidade, a questão particular de Ney poderia se estender de forma mais ampla a toda linha de ataque, pois, realmente, separando-a dos demais da equipe durante o jogo com e sem a pelota, Luis Enrique buscava ter vantagem de suas liberdades para ficar no mano a mano com os dois zagueiros do Arsenal. Em suma, o Arsenal reunia quase sete jogadores no campo do Barcelona e o trio ficava livre, à espera da recuperação de bola. Monreal, o lateral esquerdo, tinha maior responsabilidade defensiva, por estar no lado de Messi.

Obviamente, a circunstância facilitou o pensamento do comandante asturiano, mas voltar a ter à disposição um eficiente contra-ataque é um forte argumento para um Barcelona favorito a ganhar a Tríplice Coroa pela segunda vez consecutiva. Lucho tem três membros acostumados a um jogo mais transicional (embora Messi também seja, como mostrou na era Guardiola, adaptado a um jogo posicional), especialmente Neymar, a ágil flecha que se desmarca na velocidade da luz e é um pesadelo para qualquer sistema defensivo do mundo.

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