Violência desnecessária contra a torcida

Corintianos apanhando dentro de casa por protestar. A mando de quem?

Quem frequenta estádio com uma assiduidade grande sabe como funciona: a PM age de forma ostensiva no estádio e mete medo justamente por isso. Quando tem desavença, o povo implora para acabar a discussão, por medo que a PM suba as arquibancadas e surre a todos em vez de resolver. É o “padrão”. Dia desses um torcedor foi arrastado pelo colarinho escada abaixo no setor Sul da Arena. No setor Norte então, nem se fala. Quando apanham ali, ainda viram culpados da surra que levaram. E, se é interessante pra audiência, fala-se aos quatro cantos de como “a torcida é violenta“. Hoje, entretanto, pouco se fala do massacre que ocorreu sábado na saída do jogo entre Corinthians x Linense.

Já falamos desse tema recentemente, quando ganharam o clássico contra o São Paulo na Arena. E, do alto da minha inocência, achei que as agressões contra a torcida iriam parar. Não pararam. E talvez não parem.

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Depois das agressões para “pegar a faixa” contra o Capivariano e no jogo contra o São Paulo, teve a vez da semana passada contra o Cerro Porteño. O modus operandi foi esperar o jogo acabar, subir para “resolver” a situação longe das câmeras. Nesse vídeo, divulgado no facebook, podemos ver o que aconteceu. E nesse vídeo, filmado de cima, temos um parâmetro melhor do que ocorreu. Muita truculência, em resumo.

Nesse sábado, contra o Linense, foi o pior dos episódios: Coringão ganhando de 4×0, jogo tranquilo, torcida única praticamente, mas o circo estava bem armado. Haviam policiais filmando o lado Norte da torcida que estava com as faixas de sempre e uma nova, escrito “opressores“, a maior delas. Ao final do jogo, o show de horrores aconteceu. Torcida presa sem conseguir sair do estádio, policiais cercando o lado de fora. “Caveirão” e cavalaria da PM passando. Quando a torcida conseguiu sair, se deparou com dezenas de bombas e, ao tentar voltar para a Arena, era impedida pelos funcionários. Aqui, um vídeo divulgado com cenas das bombas na saída.

Muitas pessoas correram para o caminho do metrô, mas em vão, porque já havia policiamento chegando ali e bombas. Crianças, idosos, mulheres grávidas, jovens e todo tipo de gente correndo. Pessoas feridas no tumulto. Empurra-empurra para chegar ao metrô. Muitos se esconderam entre as barracas dos ambulantes no caminho, mas não puderam se livrar do cheiro do gás das bombas e dos sprays de pimenta.

A truculência em si é injustificável. A quantidade de bombas, surras, empurrões, violência desse nível seria justificável, se muito, se fosse contra uma multidão armada e enfurecida. Quaisquer procedimentos dessa proporção contra torcedores desarmados, que só tentavam fugir da confusão, salvar seus filhos e seus próximos, são absurdos em todos os níveis. Não canso de dizer: não há justificativa. Ou há?

As perguntas que lanço aqui são as que já cansei de fazer nas redes:

– Quem ordena essa truculência? A mando de quem os protestos na arquibancada são vetados se não ferem nenhuma lei?

– O Corinthians vai se calar e corroborar? Vai ver o torcedor ser surrado e humilhado dentro de sua própria casa? Porque eu vi, com meus próprios olhos, seguranças da Arena solicitando a retirada das faixas. Por que não pode?

Não podemos nos calar diante disso. O Corinthians paga pelo serviço prestado de segurança. É um evento particular, com segurança pública paga pelo próprio clube. E uma segurança que nos assusta, nos faz temer estar nas arquibancadas.

Que os protestos continuem a todo vapor. Não vivemos uma ditadura, não podemos colaborar com algo assim. E, nesse ritmo, o próximo agredido pode ser você, ou um parente seu. Que o Corinthians tome uma posição real em prol dos seus torcedores.

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