
Considerações sobre as seleções antes da Eurocopa
A última oportunidade de observar jogadores antes da convocação final para a Eurocopa já passou. Os amistosos serviram para muitos testes às seleções europeias, embora para a maioria tenham sobrado mais dúvidas do que certezas. Nenhuma das equipes mais tarimbadas chega como unanimidade, por mais que França e Alemanha mereçam mais a pecha de favoritas do que as outras. Destaque que se dá mais pelas possibilidades que Joachim Löw e Didier Deschamps têm em mãos do que pela consistência nos resultados.
Abaixo, analisamos a situação de cada uma das principais seleções às vésperas da Euro 2016, assim como apontamos outros times um pouco mais distantes dos holofotes, mas que merecem atenção. Confira:
França
O fato de jogar dentro de casa pode mesmo impulsionar a França na Euro 2016. Mas não é apenas por isso que os Bleus merecem a pecha de favoritos. A equipe de Didier Deschamps vem em crescente desde a suada conquista da vaga para a Copa de 2014. E, não custa lembrar, os franceses deram enorme trabalho contra a Alemanha no Mundial – criando até mesmo mais ocasiões claras de gol, apesar da ineficiência diante de Neuer. Não bastasse o amadurecimento coletivo, ainda há a afirmação de nomes como Pogba, Matuidi e Griezmann, bem como a ascensão de Payet, Kanté e Coman. A qualidade é evidente especialmente pelas opções no meio e no ataque, diante da possibilidade de prescindirem até mesmo de Benzema, embora o sistema defensivo sofra as suas queixas – o principal porém para algumas oscilações recentes. Na intensidade máxima, engoliu os seus adversários.
Alemanha
Desde a Copa do Mundo, o Nationalelf parece ter entrado em letargia. Não foi tão arrebatador nas Eliminatórias quanto se espera e afrouxou em alguns amistosos contra seleções grandes. No entanto, com todo elenco que Joachim Löw tem em mãos, nem de longe dá para tirar a Alemanha do bolo de favoritos. O maior problema, neste momento, está sendo o processo de renovação que se desencadeia desde o tetracampeonato mundial. Apesar da história na equipe nacional, alguns medalhões precisam ser repensados. Enquanto isso, há tantos outros mais jovens pedindo passagem. A goleada sobre a Itália pode ser um bom motivo para impulsionar esse projeto. Quando os alemães resolveram ousar um pouco mais na formação tática e apostaram em uma equipe mais dinâmica, passaram por cima da Azzurra. Pode deixar lições para a lista final rumo à França.
Inglaterra
O desempenho em um grupo fraco não serviu de parâmetro e as interrogações preponderavam especialmente depois do fracasso na Copa de 2014. Se com gerações superiores a Inglaterra afundou, uma possivelmente inferior não vinha gerando tanta empolgação. Contudo, as novas inserções de Roy Hodgson se sugeriram interessantes, apesar da falta de regularidade nos resultados. O mesmo time que conquistou uma vitória histórica contra a Alemanha abusou dos erros para tomar a virada da Holanda. De qualquer forma, pelas novas peças, os Three Lions apontam um grupo para amadurecer com um tempo – e, por isso, a Euro 2016 deve ser tão importante. O Tottenham serve de base para equipe nacional, com nomes para serem convocados por anos, enquanto o Liverpool também oferece alternativas interessantes. Sem tantos holofotes, pode render uma campanha digna.
Espanha
La Roja veio de um 2015 extremamente positivo, se você olhar apenas para os resultados: oito vitórias e apenas uma derrota, para a Holanda, em Amsterdã. Mas considerando os rivais pouco ameaçadores e as atuações quase nunca convincentes, os empates na última Data Fifa serviram para colocar os pés um pouco mais no chão. Há qualidade de sobra à disposição de Vicente del Bosque, isso é inegável. O problema é que os espanhóis parecem muitas vezes preso ao modelo vitorioso e às peças do passado, que não surtem o mesmo efeito, enquanto nomes que pedem passagem nem sempre aparecem com a mesma eficiência com a camisa da seleção. O exemplo mais evidente é o de Casillas, com De Gea ou mesmo Sergio Rico vivendo momentos bem melhores. E, sem a defesa confiável de outrora, também com a baixa de outras lideranças, fica difícil imaginar que o tricampeonato aconteça.
Bélgica
Inegavelmente, os belgas possuem vários jogadores de qualidade. Todavia, ao mesmo tempo em que os Diabos Vermelhos empolgam por sua escalação, deixam a desejar em alguns momentos nos quais se espera um pouco mais deles. Aconteceu assim na Copa do Mundo ou mesmo depois, como o próprio amistoso diante de Portugal. Ainda que, nos meses anteriores, as vitórias sobre a França e a Itália também tenham o seu significado. Só que o time também deixa indagações sobre as suas referências individuais. A fase de muitos dos nomes tarimbados não é boa e ainda existem os recorrentes problemas com lesão, sobretudo na defesa. Neste momento, Romelu Lukaku desponta como principal destaque na linha, enquanto Courtois garante a segurança sob os paus. Ótimos talentos, mas pouco para a badalação.
Itália
Dentre as principais seleções, a Azzurra é a que apresenta os problemas mais sérios. A classificação veio sem tantos problemas, mas o desempenho nos amistosos foi completamente decepcionante. Desde 2015 que os italianos não vencem um amigável sequer – foram quatro empates e três derrotas, nenhuma mais acachapante do que os 4 a 1 para a Alemanha. Antonio Conte é um treinador competente e possui uma ótima base a partir da Juventus, especialmente para o sistema defensivo. O que, no entanto, não vem funcionando tão bem, até pelos desfalques. O pior é que a Itália realmente carece de valores individuais. Falta aquele jogador para carregar consigo o rótulo de craque e ser um diferencial para decidir as partidas. No ataque, há vários coadjuvantes à disposição e os únicos realmente acima da média estão do meio-campo para trás. Para ter vida longa, o bom e velho defensivismo parece mesmo a melhor solução.
Portugal
Difícil se convencer plenamente com o potencial de Portugal. O mesmo time que conseguiu vencer a Bélgica perdeu para a Bulgária – em noite inspirada do goleiro Stoyanov, é verdade. De qualquer maneira, a Seleção das Quinas já apresentou elencos mais consistentes. Cristiano Ronaldo permanece como unanimidade, enquanto outros nomes tarimbados vivem o declínio da carreira. Se dá para esperar uma boa surpresa dos portugueses, a expectativa deve se concentrar a partir do meio de campo, que vem apresentando boas opções a partir do trio de ferro nacional. Nomes como Renato Sanches, André André e Adrien Silva conquistam o seu espaço. Podem agregar bastante ao grupo. Além disso, é apostar na capacidade que Fernando Santos já demonstrou na carreira para montar sistemas defensivos.
Também vale ficar de olho
Pelos resultados: Duas seleções com nomes interessantes e que começam a embalar às vésperas da Euro são Turquia e Polônia. Os turcos, além de passarem pela chave da Holanda, mantêm uma invencibilidade que já dura um ano e meio. Neste caminho sua maior vitória veio mesmo contra a Oranje, mas também sempre conseguiram se impor contra equipes médias – a exemplo de República Tcheca, Islândia, Suécia e Áustria. Já os poloneses, que fizeram papel digno na chave da Alemanha, venceram as suas últimas cinco partidas. Nenhuma contra grandes países, é verdade, mas diante de três seleções que estarão presentes na França. Entre os turcos, vale destacar o talentosíssimo meio-campo com Çalhanoglu, Arda Turan, Nuri Sahin e Selçuk Inan à disposição. Já os poloneses contam com a voracidade de Lewandowski e Milik na linha de frente.
Pelos elencos: Por mais que tenha feito sua parte nos amistosos, a Croácia deixou um pouco de desconfiança após a queda de produção na reta final das Eliminatórias. De qualquer maneira, poucos adversários na Euro possuem um meio-campo tão técnico, com Modric e Rakitic à disposição para orquestrar as ações ofensivas. A Áustria, por sua vez, vem de tropeços apertados contra Suíça e Turquia. Mas é bom acompanhar com atenção a geração que fez ótimo papel nas Eliminatórias, com jogadores sólidos na defesa e de categoria no meio, como Alaba e Junuzovic.