
O Passado de Barcelona x Real Madrid
No El Clasico não importa qual a fase do time, se vale título ou não, se acontece na Champions League ou em um torneio amistoso. Em campo, o foco é a rivalidade. A partida entre Real Madrid e Barcelona transcende o futebol. É muito maior que o esporte.
Quem vê os clássicos hoje em dia provavelmente não tem noção do que já foi essa disputa:uma história que envolve política, manobras, traições, goleadas, humilhações e domínios. Falar de tudo o que aconteceu entre as duas equipes é praticamente impossível, mas resumir os pontos centrais mostra um pouco da dimensão do que é o maior clássico da atualidade.
ALFREDO DI STÉFANO E O DOMÍNIO BLANCO
Da chegada de Alfredo Di Stefano, após muitas polêmicas envolvendo política, em 1953, até sua ida para o Espanyol em 1964, foram jogados 35 clássicos.

Questões governamentais a parte, o domínio do time da capital foi evidente. Das 35 partidas disputadas, o Real Madrid venceu 20 e o Barcelona apenas 12. Os dois times empataram apenas três vezes.
Porém, o domínio blanco não foi só em relação ao clássico contra os rivais catalães. Entre 1955 e 1960, o time de Madrid faturou cinco Copa dos Campeões consecutivas, com o argentino Di Stéfano marcando em todas as decisões. Os confrontos entre Real e Barcelona, pela competição, aconteceram quatro vezes em duas temporadas seguidas: em 59-60, o duelo ocorreu nas semifinais, com duas vitórias por 3×1 do futuro pentacampeão; e em 60-61, pelas oitavas de final do torneio, o Barça eliminou o Real com 4×3 no agregado (2×2 e 2×1).
Na Espanha, o cenário foi ainda mais monopolizado. O lado azul e grená do país, depois de vencer cinco ligas entre 1944 e 1953, viu os rivais da capital faturarem oito de onze campeonatos nacionais.
Entre as goleadas da era em questão, destacam-se o massacre madrileno, no Santiago Bernabeu, em 25 de outubro de 1953, por 5×0, na estreia de Alfredo Di Stéfano. Com dois gols do argentino, dois de Roque Olsen e um de Molowny, o Real Madrid dava início à era mais vitoriosa da história do clube.
Confira o XI titular das equipes nessa partida:

Real Madrid: Pazos, Navarro, Oliva, Lesmes II, Muñoz, Zarraga, Joseito, Olsen (2), Di Stefano (2), Molowny (1), Atienza. Técnico: Enrique Fernández
Barcelona: Velasco, Segarra, Biosca, Gracia, Flotats, Bosch, Basora, Vila Soler, Kubala, Moreno, Manchon. Técnico: Ferdinand Daucík
JOHAN CRUYFF, JOGADOR E TREINADOR
Em 1973, chegava a Catalunha o homem que mudaria, dentro e fora de campo, a história do Barcelona. Bola de Ouro em 1971 e revolucionário no Ajax, onde faturou três Copas dos Campeões consecutivas, Johan Cruyff desembarcava na Espanha. O fato do treinador Rinus Michels estar no comando da equipe blaugrana foi determinante para a contratação mais cara da época.
Como jogador, o holandês era impecável em todos os aspectos. Líder de um Ajax extremamente vencedor, no Barça os títulos foram poucos: um campeonato espanhol, em 1974, após 14 anos de jejum, e uma Copa do Rei, em 1978. Porém seu legado estava só começando.

O Real Madrid ainda era dominante na época. Nos cinco anos que Cruyff passou no Barcelona, o rival venceu três campeonatos espanhóis. No confronto entre as equipes, as estatísticas foram um pouco mais equivalentes: em 11 jogos, quatro vitórias do Barcelona, quatro do Real e três empates. Entre elas, uma goleada do time de Madrid sobre o Barça, por 4×0, na final da Copa do Rei de 1974.
Cruyff deixou o Barcelona em 1978, após reclamar da violência dos gramados espanhóis. Retornou em 1988, como treinador, e revolucionou de vez o clube catalão. Responsável pela implantação da melhor categoria de base da história do futebol, a La Masia, o holandês viria a colocar o Barça em outro patamar no cenário mundial.
No clássico, como comandante da equipe, Johan devolveu, em 1990, a derrota que sofrera enquanto jogador na final da Copa do Rei. No dia 5 de abril, no estádio Mestalla, em Valencia, o Barcelona faturava a competição após vencer o Real Madrid por 2×0, gols de Guillermo Amor e Julio Salinas, no jogo em questão, o zagueiro lendário da equipe blanca, Fernando Hierro, foi expulso.

O treinador também deu ao clube espanhol o que ele nunca havia conseguido em sua história: uma Champions League (1992) e um tetracampeonato espanhol consecutivo.Entre 1991 e 1994, o domínio da liga nacional passava para as mãos do Barcelona. Além disso, no dia 8 de janeiro de 1994, no Camp Nou, o time da casa vencia seu maior rival por 5×0, com hat-trick do brasileiro Romário, uma das maiores goleadas do clássico.
Confira o XI titular das equipes nessa partida:

Barcelona: Zubizarreta, Ferrer, Guardiola, Koeman, Sergi, Bakero (Iván, 75’), Goikoetxea, Stoichkov (Laudrup, 47’), Amor, Romario, Nadal. Técnico: Johan Cruyff
Real Madrid: Buyo, P. Llorente, Lasa, Alkorta, Sanchís, Milla (Butragueño, 54’), Luis Enrique, Míchel, Zamorano, Prosinecki, Alfonso (Hierro, 25’). Técnico: Benito Floro
O aproveitamento de Cruyff, no El Clasico, como treinador, é de pouco mais de 39%: oito vitórias, 11 derrotas e oito empates, em 27 jogos.
OS GALÁTICOS X RONALDINHO GAÚCHO
No ano de 2000, chegava à presidência do clube madrileno Florentino Pérez. Com a missão de continuar a era vitoriosa deixada por Lorenzo Sanz, que conquistou duas Champions League em cinco anos de gestão, e se preparar para o centenário do clube em 2002, Florentino começou, desde cedo, a se reforçar. Trouxe do rival catalão o português Luis Figo, alvo da ira da torcida blaugrana, e da Juventus de Turim, o francês que viria a coroar os 100 anos de história do clube, Zinedine Zidane. O Barça, que vinha de apenas duas conquistas na liga nacional após o tetracampeonato sob o comando de Johan Cruyff, resolveu, em 2003, trazer para o Camp Nou Ronaldinho Gaúcho, em uma jogada de mestre do presidente Joan Laporta.

Confrontos históricos aconteceram nesse período, quando a era galáctica do Real Madrid começou. Até 2008, ano em que Ronaldinho Gaúcho deixou a Espanha rumo ao Milan, aconteceram 18 El Clasicos, com quatro vitórias do Barcelona, sete do Real Madrid e outros sete empates.
Entre as partidas marcantes dessa época está o 0x3 do Barcelona, no Santiago Bernabéu, onde o então camisa 10 foi aplaudido de pé pela torcida rival após marcar dois golaços em arrancadas partindo da ponta esquerda.
E, também, a semifinal da Champions League de 2002 – torneio que seria vencido pelo Real Madrid e que coroaria os 100 anos de história do clube. Na partida de ida, no Camp Nou, Zidane, com um golaço de cobertura, e McManaman, nos acréscimos, acabaram com as esperanças catalãs. Na volta, o empate em 1×1 selou a classificação do clube da capital para a final da competição.
Confira o XI titular das equipes nessa partida:

Barcelona: Bonano, Michael Reiziger (Geovanni, 59′), Frank de Boer, Abelardo (C) (Christanval, 73′), Saviola, Cocu, Kluivert, Overmars, Rochemback, Luis Enrique, Thiago Motta (Gabri, 82′). Técnico: Carlos Rexach
Real Madrid: César Sánchez, Salgado, Roberto Carlos, Hierro, Zidane, Helguera, Raúl, Guti (McManaman, 80′), Solari (Conceição, 89′), Makelele, Pavón. Técnico: Vicente del Bosque
PEP GUARDIOLA E A REVIRAVOLTA CATALÃ
Em 2008, após ver o rival da capital faturar o campeonato espanhol com 18 pontos a mais que o Barcelona, que amargou a terceira colocação ficando 10 pontos atrás do vice-campeão Villarreal, a equipe azul-grená trouxe para o comando do time Josep Guardiola i Sala, o maior treinador que a equipe já teve. Aliás, o Barça não demorou muito para descobrir isso. Na temporada 2008/2009, Guardiola realizou um feito que nenhum clube na história conseguiu até hoje: a conquista do sextete.

Se os títulos vieram de monte, o aproveitamento no El Clasico pegou embalo e se tornou absurdo. Na Era Guardiola, o Real Madrid só conheceu a vitória em duas ocasiões – ironicamente, nenhuma delas no Santiago Bernabéu. O Barça venceu nove dos 15 jogos disputados, outros quatro empates ocorreram.

Guardiola foi tão revolucionário que, desde sua chegada ao clube, em 2008, até meados de 2011, o Barcelona perdeu apenas um jogo para o rival. Foram oito vitórias, uma derrota e três empates, incluindo os massacres históricos por 2×6 e 5×0, a conquista da Supercopa da Espanha em 2011 e a eliminação da equipe blanca na semifinal da Uefa Champions League do mesmo ano.
Comandados por Messi, Xavi e Iniesta, o Barcelona se viu com o monopólio do maior clássico do planeta. A conquista de duas Champions League, três campeonatos nacionais consecutivos, duas Copas do Rei, dois Mundiais de Clubes e mais cinco Supercopas, entre Europa e Espanha, marcou o domínio do clube catalão no futebol mundial.
O Real Madrid, por sua vez, teve que se contentar com um mísero campeonato espanhol e uma Copa do Rei. Foi uma época terrível para a equipe branca, que trocou de treinador três vezes em quatro anos.
Obviamente, a partida mais marcante da Era Guardiola foi o El Clasico do dia 2 de maio de 2009, no Santiago Bernabéu, onde o treinador espanhol, ao deslocar Messi para o meio-campo entre os volantes, humilhou a equipe da casa. Lionel Messi e Thierry Henry duas vezes e Piqué e Puyol, uma, aplicaram uma sonora goleada por 2×6 no estádio do rival. Higuaín e Sergio Ramos fizeram os gols madrilenos.
Confira o XI titular das equipes nesse jogo:

Real Madrid: Casillas, Sergio Ramos (Van der Vaart, min. 71), Cannavaro, Metzelder, Heinze, Lass, Gago, Marcelo (Huntelaar, min. 58), Robben (Javi García, min. 78), Raúl, Higuaín. Técnico: Juande Ramos
Barcelona: Valdés, Alves, Piqué, Puyol, Abidal, Touré (Sergio Busquets, min. 85), Xavi, Iniesta (Bojan, min. 85), Messi, Eto’o, Henry (Keita, min. 60). Técnico: Pep Guardiola

Atualmente, o clássico voltou a ser competitivo. Após a saída de Guardiola, o Barcelona foi comandado por três técnicos: Tito Vilanova, que foi assistente de Pep, Tata Martino, que viveu a pior temporada dos últimos anos no clube, e o atual treinador, Luis Enrique, que retomou o rumo dos títulos na Catalunha.
O Real Madrid, atualmente treinado pelo lendário Zinedine Zidane, teve quatro técnicos desde então, contando com o francês: José Mourinho, que seguiu no comando do clube até 2013, Carlo Ancelotti, que trouxe a La Décima para Madrid, e Rafa Benitéz, que foi demitido após 25 jogos a frente da equipe.
Da Era Guardiola pra cá muita coisa mudou. Na temporada 2013/2014, quem reinou soberano no futebol mundial foi o Real Madrid. Liderado por um trio ofensivo genial, formado por Cristiano Ronaldo, Karim Benzema e Gareth Bale, e outros jogadores vivendo seu auge futebolístico, a equipe da capital venceu quatro de seis títulos possíveis no ano de 2014, incluindo o décimo troféu da Uefa Champions League.
Além disso, pouco antes, em 2012, o Real levou a Supercopa da Espanha, em cima do rival, e também eliminou o Barça da Copa do Rei. O empate por 1×1 em Madrid e a vitória por 1×3 no Camp Nou selaram a ida de CR7 e companhia até a final, que seria vencida pelo Atlético de Madrid.

Entretanto, se nos confrontos eliminatórios o Barcelona não foi bem; na Liga Espanhola, o monopólio ainda é dos catalães. Campeão de duas das últimas quatro edições, o Barça, em sete jogos desde então, venceu quatro deles e perdeu apenas dois(1 empate). Incluindo o jogo histórico do dia 23 de março de 2014, quando Messi, ao marcar um hat-trick, se tornou o maior artilheiro do clássico. E também a goleada da última partida entre as equipes, no dia 21 de novembro de 2015, onde, liderados por Neymar e Luis Suárez, o Barça aplicou 0x4 sobre o rival em pleno Santiago Bernabéu.
