
Santos não é mais o mesmo para Robinho
Lembro-me quando Obina, em 2010, pediu o Hino do Galo no Fantástico! após uma goleada sobre o Uberlândia. Ele marcara 3 gols naquela partida válida pelo campeonato mineiro e comandava o ataque atleticano ao lado de Tardelli. Tardelli já era ídolo. Em seu primeiro ano de Galo, fora artilheiro do Brasileirão de 2009. Obina buscava o seu lugar no time. O carismático baiano chegara ao Galo após uma passagem conturbada no Palmeiras e com uma mítica história no Flamengo. Foi na Gávea que começaram a comparar Obina com Eto’o, dizendo ser o primeiro muito maior que o segundo. Pedir o hino no programa de TV foi a senha para dar morada, de vez, a Obina nos corações alvinegros. Acomodou-se nababescamente por um ano, com direito a fechar a geladeira com os pés.
Robinho pediu o Hino do Galo ao Fantástico! neste último final de semana. Fez 3 gols no Villa Nova, também pelo regional. O programa acatou o pedido, mesmo tendo sido o jogo no sábado, contrariando as regras da brincadeira que prevê a homenagem apenas aos hat-tricks marcados aos domingos. Se os corações da Massa já estavam acolhendo o moço das pedaladas como se tivesse nascido atleticano, a pedida do camisa 7 deu a ele as chaves da cobertura, com direito a piscina e churrasqueira. Pode fazer os pagodes em nossos corações, Robinho, que eles tocarão no mesmo compasso.
Meu coração é uma dessas comunidades de gente guerreira, humilde, sobrevivente de grandes tragédias e ainda capaz de sorrir. Já vi e vivi agruras das mais variadas, inclusive com o meu Galo que tantas vezes trouxe efeitos katrínicos nesse meu coração new orleaner. E, assim como na indescritível cidade Cajun pós furacão, segui festejando a magia de viver. O sofrimento foi recorrentemente o combustível da minha caminhada, um blues tocado em looping infinito.
Depois de três décadas de muita batalha e pouca recompensa, conseguimos ascender ao lugar que era nosso por direito. Ídolos reais choraram por nós. Deram-nos de volta a glória. Libertaram-nos do limbo do futebol e aprumaram a nossa crista, altaneira. E por que ainda nos comove que Robinhos enalteçam as nossas cores e clamem pela Marselhesa Alvinegra? Porque, mais do que títulos e troféus, o que nos move desde sempre é conquistar corações. Mesmo que sejam amores de ocasião, não importa. O Galo é isso: um Don Juan viciado em surrupiar as paixões alheias. Agora, para Robinho, o Santos é apenas um quadro em sua galeria de amores esquecidos.
