As birras de Fred: De quem é a culpa?

Antes da chegada de Levir Culpi, já ia algum tempo sem que o torcedor tricolor pudesse respirar em paz às quartas e domingos. Já ia algum tempo que o torcedor tricolor não podia pensar em futebol como estratégia para pegar no sono, feliz e contente.

Nossos últimos técnicos foram nomes como Renato Gaúcho, Cristóvão Borges, Ricardo Drubscky, Eduardo Baptista. Sofríamos com times irregulares, derrotas humilhantes, vexames, jogadores ruins. Perdemos o tesão no futebol e perdemos o tesão no Fluminense.

As quartas e domingos não eram mais a mesma coisa.

Então veio Levir Culpi, e embalamos uma sequência de dez jogos sem perder – não um, não cinco, não nove, mas DEZ jogos sem perder. Chegamos à final da Primeira Liga, e há quanto tempo não chegávamos em uma final?

O time joga bem. O time ainda possui jogadores medíocres, carência de peças, mas joga bem. E vence.

E aí, quando tudo parece estar indo bem, o trem de volta para os trilhos, o Fred, do alto de seus 32 anos e há dois meses sem marcar gols, julgou possuir o direito de jogar merda no ventilador e colocar toda a boa fase em risco.

Diante desses fatos, resolvi analisar a situação de uma forma bem fria, e acredito que todos os envolvidos estão errados.

1 – LEVIR ESTÁ CERTO, MAS FEZ ERRADO

O Fred que me desCulpi, mas o Levir não disse nenhuma mentira. Fred não pode mandar no clube. Se quiser fazê-lo, que se aposente e assuma a vaga do Simone ou do Bittencourt.

O mais bizarro de tudo é que o Levir está no Fluminense há pouco mais de um mês e se já se ligou nos esquemas e no jogo de poder que rola no vestiário. Todo mundo já sabia que isso ia acontecer. Inclusive, uma das coisas que mais foi falada quando o Levir foi anunciado é que, no Galo, ele bateu de frente com Ronaldinho, Tardelli e toda a cachorrada vagabunda de lá.

E agora que fez com o Fred, tá todo mundo se doendo. Como se o Fred, de fato, tivesse o direito de mandar e desmandar, mesmo ostentando um jejum de dois meses sem gols.

Agora, o fato de o Levir estar certo, não diminui a forma errada como ele, a meu ver, procedeu. E isso se manifestou de duas formas: usar a imprensa, pra mim, é covardia. E virar pro capitão do time, dentro do vestiário, e lançar um “Quer que eu tire você para mostrar quem manda?” também pega mal pra caralho.
É compreensível, aceitável e até INCENTIVÁVEL que o Levir queira promover um “choque de gestão”, mas ele tem um mês de casa, enquanto o Fred tem sete anos. Por esse prisma, muito embora eu entenda a necessidade de o Levir se impôr enquanto TÉCNICO, eu tenho certeza de que existem pelo menos 1 milhão de alternativas de resolver isso sem que seja construindo uma rinha de cachorros loucos de raivas nas Laranjeiras.
Toda essa situação poderia ser contornada de uma forma a criar uma liderança conjunta absolutamente saudável, como feito em 2009, com o Cuca, ou como foi feito em 2012, com o Abel. Beligerância interna não leva a nada, só a problemas.

2 – FRED ESTÁ ERRADO. PONTO

Penso que o Fred não tem o direito de contaminar a boa fase do time, à véspera de uma final e prestes a entrar em outra, só porque está em má fase e “não recebe bolas”. Por que ele não foi peitar o Felipão ou o Neymar na Copa do Mundo, quando não recebeu bolas e foi execrado pelo país inteiro como “cone”?
A impressão que fica é que, quando estávamos na pindaíba, sem ganhar de ninguém, e ele fazia gols, estava tudo bem. Porque o time estava mal, mas ele fazia gols.

O Fred não tem o direito de contaminar a boa fase do time por birra pessoal. Que se esforce nos treinos e se esforce para se encaixar no que o treinador propõe.
Falando em Fred e técnicos, repriso, aqui, mais uma parte da notícia publicada pelo NetFlu:
“Fred teve voz ativa na chegada de Enderson Moreira em 2015 e, por vezes, discutia sobre táticas com ele. Existia liberdade. Levir não trabalha assim. De 2014 para cá, o capitão conversava e dava sugestões aos comandantes: Renato, Cristóvão, Ricardo Drubscky, Enderson e Eduardo Baptista. Com o atual treinador, não funciona assim.”
Peço que atentem para o seguinte trecho: “De 2014 para cá, o capitão conversava e dava sugestões aos comandantes: Renato, Cristóvão, Ricardo Drubscky, Enderson e Eduardo Baptista.
Parece coincidência que todos esses técnicos tenham tido um desempenho horroroso? Parece coincidência que o primeiro técnico a NÃO baixar a cabeça pro jogador-treinador tenha conseguido endireitar praticamente o mesmo elenco dos outros técnicos?
E tem mais.
A ESPN narra que o Fred pediu “respeito” após recusar uma proposta da China. E eu digo: fala sério. Todo mundo sabia que o Fred jamais iria pra China de casamento marcado aqui, com uma filha pequena aqui, sendo que já ganha toneladas de dinheiro no Fluminense. 800 mil mensais está ruim? Só serve 1 milhão? E você pede respeito?!
Ah, e já que estamos falando de tempo de casa, o exemplo do Gum é perfeito para o momento. Gum também tem sete anos de casa. Também teve propostas para sair. Também ficou por respeito ao clube. Foi para a reserva. Continuou trabalhando firme, forte e sério. E voltou a ser titular.
O Gum nunca disse “com esse técnico eu não trabalho“. Principalmente porque o Gum, tão ídolo quanto, sabe o seu lugar.

3 – SE TUDO FOR PARTE DE UM PLANO MAIOR, ENTÃO O ERRO FUNDAMENTAL É DA DIRETORIA

Há quem diga que isso tudo pode ser um plano da diretoria para orquestrar a saída do Fred e eliminar 800 mil mensais da folha salarial, e eu lhes digo que, embora possa fazer sentido do ponto de vista financeiro, VOCÊ NÃO ENXOTA UM ÍDOLO DO CLUBE POR QUESTÕES FINANCEIRAS.
Isso já foi feito com o Conca e teve efeitos MUITO nocivos. Venderam o Conca para construir um CT, O CONCA VOLTOU, FOI EMBORA ENXOTADO, cheio de papo torto e mimimi de bastidores, E O CT NÃO ESTÁ PRONTO.
Se, e somente se, isso for um plano maior da diretoria, então o erro fundamental é deles. Ninguém ganha nada nessa brincadeira: o clube perde um ídolo, o Levir perde estabilidade (porque, bem ou mal, o Fred tem uma influência grande sobre o elenco) e, a médio e longo prazo, ficamos sem Fred, sem Levir (já que técnico nenhum dura com essa diretoria) e com dirigentes de cueca freada que precisam usar um técnico e a imprensa como escudos para conter os brios de um jogador que só construiu tamanha “mandabilidade” no clube por conta do pulso frouxo e da conversa fraca dos próprios dirigentes.

4 – E NÓS? É SÓ FUTEBOL. NÃO PERCAMOS O SONO

No final de tudo, quem se prejudica é o torcedor, que gasta dinheiro, perde tempo, perde o sono, perde amigos, discute com a família por conta de um grupo de pessoas que ganha milhares e milhares de reais por mês, milhões por ano para construírem esse circo de picuinhas para vender jornal.
O meu conselho para vocês é: não percam o sono por causa disso.
Passei o final de semana completamente alheio de tudo, incluindo futebol. E teve efeitos maravilhosos sobre mim. Quando voltei, no domingo à noite, e vi que o Fluminense tinha vencido MAIS UMA, e tomei ciência de todo o MERDELÊ envolvendo o Fred, eu não fiquei preocupado.
Torcedores de futebol precisam, de uma forma geral, entender que tudo na vida tem um fim. O Fred não ficará no Fluminense para o resto da vida (aliás, com 32 anos e sem a mesma Transabilidade de outrora, pode ser que sua passagem esteja, naturalmente, próxima do fim). Levir Culpi não ficará no Fluminense para o resto de nossas vidas. Nem Peter Siemsen, Pedro Antônio, Mário Bittencourt, Gum, Cícero, Zagueiro Henrique etc.
Fica o Fluminense. E o Fluminense é maior do que todos eles.
Relaxem. Não é o fim do mundo. Não vai ser. São apenas jogadores, pessoas mimadas e milionárias. É apenas futebol. Não vou perder o MEU sono por causa deles.

 

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