A bravura do Atlético de Madrid os levou as semi finais da Champions League

O Barcelona chegou seis vezes às semifinais da Champions League nos últimos oito anos e houve apenas um time, comandado por um único homem, que conseguiu ficar no seu caminho. Se os catalães frequentemente parecem um time de extraterrestres, o Atlético de Madrid é sua kriptonita. Eliminou-os nas quartas dois anos atrás e voltou a fazê-lo nesta quarta-feira, com uma vitória por 2 a 0 no estádio Vicente Calderón, onde mostrou com excelência a face que o permite chegar tão longe, mesmo sem tantos recursos.

Foi uma partida à altura de qualquer outra daquela temporada, quando foram vice-campeões europeus e levantaram o título do Campeonato Espanhol. Os colchoneros relembraram a todos porque são o time europeu que mais consegue transferir a força dos seus corações para o campo de futebol, e já que os jogadores não são mais os mesmos, fica difícil não creditar boa parte desse espírito ao cardíaco Diego Simeone, responsável pela estratégia e por inspirar uma entrega acima do normal.

Com garra, muito bem coordenados, e com um plano claro em mente, foram melhores desde o apito inicial. Ameaçaram Ter Stegen, conseguiram abrir o placar e se defenderam com método, paciência e aplicação. A ideia era fechar a grande área para as infiltrações do trio Messi, Suárez e Neymar e não dar um segundo de sossego para a troca de passes. Quando a bola fosse recuperada, contra-ataque com precisão e eficiência diante do goleiro dos catalães.

As chances foram se empilhando. Gabi chutou por cima, Griezmann jogou a bola nas mãos de Ter Stegen e Carrasco cruzou para ninguém interceptar. Tudo isso apenas nos dez primeiros minutos. Aos 35, Saúl encontrou no fundo de seu grande baú criativo um cruzamento de trivela (agradecemos a exposição internacional da nossa marca), que encontrou a cabeça de Griezmann, solitário como uma ilha no meio da falha marcação do Barcelona na bola aérea. Foi também a partir desse tipo de jogada que a Real Sociedad cometeu o crime no último final de semana e Cristiano Ronaldo fez o segundo gol do Real Madrid no Superclássico.

Quanto à questão defensiva, nem precisamos explorar muito por enquanto. Basta mostrar esse mapa de calor publicado pelo Sport. O Barcelona tocou na bola apenas uma vez dentro da área do Atlético de Madrid no primeiro tempo:
Messi tentou bastante, mas esteve longe do seu melhor. Neymar desapareceu na marcação. Suárez teve algumas oportunidades e surpreendentemente finalizou mal. Quando seus três jogadores de ataque estão abaixo do normal, sejam eles craques como os citados acima ou não, a coisa complica, principalmente quando o que está pela frente assemelha-se a um polvo. Os dez jogadores de linha reúnem-se na grande área e acompanham o movimento da bola. Quando ela vai à esquerda, dois ou três colchoneros transformam-se em um tentáculo para persegui-la. Quando vai à direita, a mesma coisa. Quando o adversário tenta entrar pelo meio, são os 300 de Esparta partindo para cima dos persas.

Por isso que, apesar de o Barcelona ter aproveitado o recuo precoce do Atlético de Madrid para jogar praticamente sozinho no segundo tempo, quantas chances reais de gol criou? Pouquíssimas. Houve dois chutes de pouco capricho de Suárez, que Oblak defendeu sem sobressaltos. Uma cobrança de falta de Messi no final da partida que passou muito perto, em toque de mão que ocorreu dentro da área e deveria ter terminado em pênalti – mas Iniesta, o autor do chute, também já deveria estar no vestiário naquela hora.

Porque foi dele o toque de mão que colocou a pá de cal na campanha europeia do Barcelona, depois de uma arrancada de Filipe Luís que deveria ser eternizada em um museu do Atlético de Madrid. Ele próprio roubou a bola na lateral esquerda, pertinho da grande área. Tabelou, avançou, driblou, entrou na área, e mesmo depois dessa jogada brilhante, resistiu à tentação de fazer um golaço antológico e rolou para o lado, em uma manifestação escancarada da coletividade e parceria do time de Simeone. Iniesta fez a defesa, Nicola Rizzoli apitou pênalti, não expulsou o espanhol, e Griezmann bateu bem para fazer 2 a 0 para o time da casa.

Um gol do Barcelona ainda levaria a partida para a prorrogação, mas o time de Luis Enrique simplesmente não criou o bastante para marcá-lo. Oblak executou apenas quatro defesas, nenhuma delas realmente excepcional. Com 28% de posse de bola, o Atlético de Madrid teve 50% a mais de arremates certos do que o Barça, e mais importante, colocou duas bolas na rede e se classificou. Didático para quem ainda exacerba a importância da posse de bola, sem outras estratégias e objetivos para acompanhá-la.

Os números podem mentir, afinal de contas. E daí que Diego Simeone havia vencido o Barcelona apenas uma vez como treinador do Atlético de Madrid? Essa vez havia sido justamente nas quartas de final da Champions League da temporada 2013/14, que também teve um empate no Camp Nou que lheu valeu o título espanhol. A segunda foi nesta terça-feira, na mesma situação de dois anos atrás e tão saborosa quanto para os colchoneros.

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