O Leicester Russo

‘Leicester da Rússia’, Rostov lutou para não cair em 2015 e pode conquistar primeiro nacional em 2016

Alguns jornalistas na Rússia já nem aguentam mais a comparação. Apesar disso, é justo fazer a analogia entre a mágica história do Leicester nesta temporada com o desempenho também impressionante do Rostov no Campeonato Russo.

Faltando sete rodadas para o término da competição, o Rostov está na segunda posição com 45 pontos, um a menos que o CSKA Moscou e dois à frente do terceiro colocado Zenit São Petersburgo. Pode não estar tão bem assim na disputa pelo título como o exemplo inglês, mas se parece demais quando as lembranças de um ano atrás surgem. Em 2014-15, a equipe ficou na antepenúltima colocação e escapou do rebaixamento apenas nos playoffs.

Fundado em 1930, o Rostov era um clube secundário no período soviético e que, com a dissolução da URSS, se tornou um frequente participante da elite do futebol da Rússia. Tanto é que, das 23 edições do Campeonato Russo até hoje, não disputou apenas duas; Uma delas em 2008 quando conquistou a segunda divisão.

De lá para cá se mantém na Premier League e foi inclusive campeão da Copa da Rússia em 2014, ao bater nos pênaltis o Krasnodar na decisão. Esse período de sucesso – dentro das devidas proporções do clube – se deve muito ao investimento do Estado. É bastante comum no país as regiões administrativas – denominadas Oblasts, Krais, Repúblicas ou autônomas – serem proprietárias de clubes.

Assim, quem coloca dinheiro é o governo de Rostov Oblast. O problema é que, mesmo com esse aporte financeiro, atrasos aconteceram nesta temporada, e olha que o custo de manutenção do elenco é baixíssimo: somando o valor de mercado de todos jogadores não se chega no preço do brasileiro Hulk, do Zenit, por exemplo.

“A região paga os salários, e eles tiveram alguns atrasados nos últimos meses, rotina no Rostov, o que torna esses resultados ainda mais incríveis. A guerra na Ucrânia é muito perto dali, inclusive o avião derrubado caiu próximo também, e por causa dos conflitos o governo tem investido bastante para receber todos que fogem do conflito. Na semana passada o governador, Vasiliy Golubev, visitou o centro de treinamentos e agradeceu a todos. Agora o Rostov está mais ou menos ok com dinheiro”, explica o jornalista Grigoy Telingater, do site Championat.com.

Entre os atletas, aliás, poucos conhecidos. O zagueiro espanhol César Navas, o meio-campista Christian Noboa e o atacante Aleksandr Bukharov, todos ex-Rubin Kazan, são os principais destaques. Eles se reencontraram em Rostov-na-Donu – uma das sedes da Copa – com um velho comandante. Enquanto lutava contra o rebaixamento em 2014-15, a direção do Rostov apostou em uma figura antiga e vitoriosa do futebol russo: o turcomeno Kurban Berdyev.

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“Todo jogador russo fala que quer trabalhar com o Berdyev. Para a imprensa, ele é louco. Quase não dá entrevistas, acho tudo isso desnecessário. Parece que ele pensa apenas sobre como não dar espaço para o adversário no campo! Algumas vezes dá a impressão que não quer explicar, porque nos considera em nível inferior”, afirma Telingater. “Ele é fanático por disciplina. Nos treinamentos do Rostov é proibido dar toques de calcanhar”, completa.

Bicampeão russo em 2008 e 2009 e da Copa da Rússia em 2012 com o Rubin, o treinador sempre foi conhecido por armar excelentes times na defesa, mas muito chatos de assistir. A fórmula foi repetida no Rostov. Até agora foram 16 gols sofridos em 23 jogos e um futebol que prioriza totalmente o setor defensivo, muitas vezes abdicando do ataque. Quase um espelho do Rubin Kazan que dominou o futebol russo.

Diferentemente do Leicester, o Rostov ainda não está classificado para a próxima Liga dos Campeões. Terá duras batalhas para desbancar os grandes da Rússia e ficar com uma das duas vagas no torneio continental. De qualquer modo, a inspiração inglesa certamente vai ajudar muito.

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