Retrato bipolar do Palmeiras

A dor latente vem das bolas na trave no Uruguai, da derrota em casa, dos gols sofridos, dos pênaltis infantis e de um time covarde. Time que não era esse de agora. O sofrimento era por um elenco que nos trazia desespero. Desespero demonstrado no toque de bola e nas finalizações que passavam longe do gol.

Mas o Palmeiras é movido à base de sentimento. Sempre foi. Por isso chegou um dos nossos. Alguém que levanta a cabeça após uma derrota, assume a responsabilidade e garante que dias melhores virão. Assim como o nosso olhar, na saída do estádio, garantia ao irmão alviverde que algo está por vir.

Foi uma noite bipolar palmeirense. Como somos. Entre a tristeza de ver o time abandonar uma obsessão e a alegria de ver jogadores que sabem o que fazer com a bola. Eu disse que eles deveriam jogar por nós. E jogaram. Até o fim. Quando nossa garganta não conseguia mais gritar gol, quando os olhos custavam acreditar no resultado do Uruguai, quando o coração pareceu perder a fé. Eles continuaram. Eles bombardearam o gol adversário. O nosso 10 voltou nota 10. Sendo um 10. Valendo por 10. O melhor lateral esquerdo de 2014 renasceu e, a esperança que parecia perdida naqueles dois gols, voltou. A corneta não soa, porque o som vem dos aplausos. Do reconhecimento.

Dessa vez é uma dor diferente. É a melancolia de ver a apresentação que esperamos há meses não garantir a classificação que sonhamos no último ano.

Tava doendo, mas já passou. O Palmeiras é muito maior do que qualquer competição. Veja pela torcida que cantou os 90 minutos sem parar, mesmo quando tudo estava perdido. Fazemos por amor.

Entre as minhas lágrimas que a câmera filmou, a torcida cantava atrás os versos mais bonitos que já ouvi, aos pulmões, com a alma. E eu já não chorava por tristeza, chorava de gratidão e amor. Por ter escolhido viver do verde. Por fazer parte daqueles que me representam. Daqueles que cantaram por mim quando eu não pude. E que me fizeram lembrar que a gente transforma a lealdade em padrão. Porque, de fato, somos campeões.

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Não houve vaias. Muito menos agressividade. Na caminhada pelas escadas, no corredor que nos levava para fora do portão da nossa casa, havia lágrimas nos olhos, ombros pesados e um sorriso de canto que significava: perdemos essa, mas vamos ganhar as outras. Temos um time.

Repitam: temos um time.
E de uma coisa eu tenho certeza: ninguém nunca vai precisar pedir pra gente sair do sofá, porque a arquibancada é o nosso lugar.
Ah, só pra lembrar, a taça da Copa do Brasil ainda está na nossa casa, viu?
Como palmeirense bipolar que sou, é assim que sigo.

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