Fernando Diniz merece uma chance em um time grande

É um grande barato ver jogar o time da “capital nacional do cachorro-quente” (40 mil hot-dogs são vendidos por dia na cidade de Osasco, sabia?). Um padrão que se repete e evolui desde que Fernando Diniz assumiu o comando da equipe, em 2013.

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Fernando Diniz, técnico do Audax

O Audax não dá chutão, só em ultimíssimo caso. E sai tocando a bola mesmo quando pressionado em sua área pelos atacantes adversários. O goleiro joga com os pés, os zagueiros abrem lado a lado, os laterais avançam junto à linha para dar opção de passe, os volantes recuam pelo meio para a triangulação. Tudo isso para sair tocando. E quando acontece, abrem-se várias possibilidades de ataque a partir do meio-campo.

Evidentemente, Diniz faz seu time enfrentar riscos grandes. O goleiro está sempre jogando com os pés, os zagueiros tabelando entre si, a bola correndo de um lado a outro na frente do gol – uma região onde uma falha, por mínima que seja, tem grande chance de resultar em gol do adversário. E quando esse erro acontece, o senso comum o taxa de imediato como sendo uma “lambança”, ficando seus autores expostos a críticas e alcunhas do tipo “presepeiro”.

É isso que o psicólogo Diniz (sim, ele se formou em Psicologia depois que pendurou as chuteiras) também trabalha com seus jogadores. É preciso prepará-los para enfrentar o erro e, principalmente, suas consequências, como decorrência natural de uma opção de jogo. O essencial, obviamente, é fazer com que os benefícios desse estilo ousado pesem mais na balança que seus prejuízos.

O que Diniz faz é, essencialmente, aumentar o campo de jogo, ampliar os espaços. Como ele treina e confia que seu time trabalha bem a bola nos pés, o jogo truncado, brigado no meio-campo, com poucos espaços e chuveirinhos vindos da defesa, não lhe é favorável.

Ao trabalhar a bola no chão desde o goleiro, o Audax “convida” o adversário a pressioná-lo. Isso, naturalmente, espalha os jogadores pelo campo, gerando lugares e possibilidades.

Desejo muito ver Fernando Diniz treinando um clube de grande expressão. Mas quero vê-lo mantendo suas convicções. O meu receio é que os times grandes, pelo modo como funcionam, baseados em resultados imediatos, com visão de curtíssimo prazo, não estejam preparados para lhe oferecer a possibilidade do risco.

Essa “ousadia” pede tolerância para, por exemplo, um início com derrotas até que os primeiros bons resultados apareçam. Lembro de Cilinho no São Paulo de 1985. O início foi assim, com revezes que depois se transformariam em títulos.

Tem algum time grande que toparia essa bela “loucura”?

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