
Sem craque e sem dinheiro, Botafogo mostra bom conteúdo
Não vou mentir para ninguém. Quando passei o olho no elenco do Botafogo para esta temporada pensei: “Os caras vão ter dificuldades para se manter na Série A do Brasileirão”. E acho que essa impressão não foi só minha. Quase cinco meses de trabalho se passaram. Assisti a alguns jogos, estudei um pouco do modelo de jogo da equipe e cheguei a uma conclusão após a classificação deste domingo contra o Fluminense: o trabalho do técnico Ricardo Gomes, se olharmos na ótica material humano + desempenho, é um dos melhores do Brasil neste primeiro semestre.
Vemos um Botafogo maduro em campo. Mais que isso, um jogo coletivo, bem treinado e equilibrado. Chama a atenção o repertório mostrado até aqui por jogadores que, na sua maioria, são das categorias de base ou contratações sem grande repercussão. Não se trata de um time só de contra-ataque, só de jogo apoiado, só de cruzamento ou só de retranca, por exemplo. O Botafogo consegue apresentar um pouco de cada e, o mais importante, no momento certo.
Posicionado no tradicional 4-4-2, se compacta com inteligência, com boa ocupação dos espaços. Consegue fazer a pressão no lado da bola com boas flutuações das linhas. Marca com bloco médio/baixo em grande parte do tempo. Mas consegue assimilar bem os momentos de subir a marcação e atrapalhar a saída de bola dos adversários, como fez contra o Flamengo, no início deste mês (veja o vídeo abaixo).
Dá para enxergar também uma equipe muito concentrada sem a posse da bola. Ciente do que precisa fazer nos diferentes momentos do jogo. Muita intensidade e agressividade, principalmente quando o adversário entra no último terço do campo. Boas linhas de cobertura.
Com a posse da bola, a equipe de Ricardo Gomes faz boas transições ofensivas. Com movimentos organizados e bem estratégicos, visando sempre atacar os espaços que o rival lhe oferece. Contra o Flu, por exemplo, foram várias chances criadas nestas saídas mais rápidas.
Ao mesmo tempo, como no lance da bola na trave de Gegê, ainda na primeira etapa, consegue praticar um jogo mais cadenciado, de apoio e circulação da bola. Os jogadores fazem bons movimentos e se aproximam um dos outros para jogar. Em um momento da transmissão foi possível escutar gritos do comandante alvinegro, quando Luis Ricardo recebeu na direita e não viu ninguém por perto para trabalhar a jogada:
– Cadê o apoio? Cadê o apoio? Aproxima para jogar – esbravejava o treinador na área técnica.
Foi possível ver inúmeras situações de criação de pé em pé. Envolvendo o Fluminense e fazendo a progressão da bola com passes curtos. Este tipo de comportamento, que falta muito ao Flamengo de Muricy Ramalho, por exemplo, é puro fruto de treinamento. E digo mais, qualidade no treinamento. A organização do Botafogo, no geral, mostra ser entendida e mecanizada pelos atletas, o que se ganha nos exercícios do dia a dia.
Olhar para o Botafogo hoje é ver, acima de tudo, um trabalho bem desenvolvido. Olhar para o Botafogo é saber que trabalhar sem grande orçamento é mais difícil, mas não é impossível. É ver que não são só com medalhões e nomes conhecidos que se monta uma estrutura competitiva. Claro, que para se disputar um Brasileiro, é de extrema importância que este elenco seja ainda mais qualificado. Mas olhar para esse Botafogo é ver um trabalho no caminho certo. É ver evolução no futebol que praticamos no Brasil.