
Simeone e o seu jogo “feio”
Não foram poucos os que engrossaram a torcida do Atlético de Madrid na semifinal da Liga dos Campeões. Entre o valente time espanhol e a técnica equipe do Bayern Munique, a preferência geral parecia pelo mais pobre, o teoricamente mais fraco.
Não é uma novidade tal reação, como não é nada novo o estilo guerreiro-competitivo do exército de Diego Simeone. Mudam os soldados, segue a estratégia de luta do técnico-general que tira leite de pedra como poucos não é de hoje.
É comovente a luta dos colchoneros e compreensível que arrebate corações. Contudo, é contraditório que em meio a constantes apelos por futebol de qualidade tantos torçam por quem joga menos, pior, sem que exista paixão pelos times envolvidos.

Vejamos. A Opta Sports revelou logo após a derrota com sabor de vitória do Atlético (Bayern 2 a 1) que o time madrilenho teve apenas 25% de posse de bola nas quartas e semi-finais da Champions League. Um quarto do tempo!
Um time que assumidamente entra em campo para dificultar as ações adversárias. Do outro lado, números do Footstats mostram que o conjunto de Pep Guardiola somava 512 passes certos contra 134 da equipe de Madri — quase quatro vezes mais.
Os de vermelho finalizaram 33 vezes contra sete do Atlético. Cruzaram 38 bolas na área rival e sobre a meta de Neuer a pelota sobrevoou em apenas sete oportunidades durante os 90 dramáticos minutos na Allianz Arena.
Mas afinal, no que o Atlético foi superior? Desarmou muito mais: 20 roubadas certas de bola contra sete dos bávaros. Após construir, com justiça, vantagem na Espanha, foi à Alemanha mais para impedir o rival de jogar do que dispostos a jogar bola.

Claro que futebol se pratica de diversas formas. Óbvio que o Atlético usa as armas que tem para reduzir sua abissal desvantagem econômica para os maiores adversários. Evidentemente o que Simeone e seus soldados levam à cancha tem um quê de heróico e desperta orgulho incomensurável em sua gente. Esses homens estão fazendo história.
Mas afinal, se as pessoas clamam tanto por futebol de qualidade, por que escolhem o time que joga menos? E no caso do Atlético de Madrid, já nem existe mais o efeito da novidade, o time vem nessa pegada há algumas temporadas, ganhou um título espanhol e por segundos perdeu a chance de erguer a taça da Champions League.
Quando o Atlético fica frente a frente com um esquadrão como o Bayern Munique, muitos que não torcem por nenhum dos dois clubes instantaneamente escolhem o time da luta, da garra. Pouco importa se do outro lado está uma equipe mais habilidosa, técnica, envolvente, que ama ter a bola e busca o gol sem parar.
É o encantamento pela luta em detrimento do jogo. A paixão pelo futebol feio.