O que atrapalhou o sucesso do Barça

Campeão de La Liga, da Copa do Rei e da Champions League, o Barcelona conquistou, de forma merecida, o almejado triplete na temporada passada. Mais que isso, tornou o trio MSN praticamente imparável, em campo e nos números. Por mais que o time tenha sofrido com algumas rusgas, como questionar os métodos de Luis Enrique em 2014/2015? Contudo, para a atual temporada, alguns equívocos foram cometidos.

Ah, é só ser eliminado para que nada tenha valido a pena? O time ainda briga por dois títulos, certo? Não! Digo, não é apenas isso. A questão vai além de simplesmente analisar uma desclassificação para uma equipe tão qualificada como a do Atlético de Madrid. O que está em pauta é a análise mediante rendimento, desempenho físico e estratégias para possíveis perdas – o que realmente aconteceu. Tenho certeza que, juntamente com sua comissão técnica, Luis Enrique fará uma avaliação após o mês de maio.

Sem substituto com as mesmas características, Rakitic foi quem mais atuou pelo Barça na atual temporada
Sem substituto com as mesmas características, Rakitic foi quem mais atuou pelo Barça na atual temporada

A temporada 2014/2015 deflagrou a boa estratégia de “Lucho” ao rodar o elenco, mas gerou muitas polêmicas sobre sua relação com alguns jogadores. Isso ficou evidenciado na derrota para a Real Sociedad no dia 04 de janeiro de 2015, em jogo válido pela 17ª rodada de La liga. Tal estratégia, mesmo que controversa, mostrou-se correta e eficaz. O importante é chegar, fisicamente falando, inteiro em fevereiro. Não foi a prática adotada para 2015/2016.

Por incrível que pareça, não são desculpas para a queda de rendimento da equipe. Porém, tudo acaba se encaixando ao averiguarmos minuciosamente. Vamos aos pontos.

Fator Copa América

O trio MSN é o ponto alto da equipe. Mas deixemos o uruguaio de fora, já que não pôde disputar o torneio. A estreia de Messi pela Argentina ocorreu no dia 13 de Junho; Neymar atuou um dia depois. Isso deve ser levado em consideração, já que a final da Champions League contra a Juventus aconteceu no dia 06. O argentino atuou até a final, dia 04 de julho. O brasileiro, por sua vez, até o dia 17. As principais estrelas não tiveram sequer descanso.

Pode-se questionar 2014, quando uma equipe inteira veio fadigada da Copa do Mundo. Contudo, a temporada 2015/2016 não apresentou alternativas ao ataque. No ano anterior, bem ou mal, Pedro foi figura importante. Já para o pós-triplete, sabendo que Munir e Sandro não seriam “novos Pedros”, Lucho se equivocou ao não pedir ninguém. Prova disso foram as poucas partidas dos supracitados.

Pré-temporada confusa

Teve início no dia 13 de Julho, mas sem os jogadores que disputaram a Copa América: Bravo, Daniel Alves, Mascherano, Neymar e Messi. Começar todo um planejamento sem várias de suas peças é, no mínimo, complicado. Ainda mais tendo conhecimento que muito em breve o time teria de jogar Supercopa Espanhola e da Europa.

Cotratar e esperar

Arda Turan e Aleix Vidal foram contratados pontualmente. Porém, com a pena sofrida pelo clube, só puderam jogar em Janeiro de 2016. Sendo assim, o ritmo de competição para estes dois atletas seria outro, bem como a preparação física. Dois bons jogadores que ainda não engrenaram no clube, e talvez uma das causas para o rendimento abaixo do esperado seja realmente o aspecto físico.

Zagueiros

Hoje é fácil apontar o dedo para os erros. Afinal, a equipe sucumbiu na Champions e oscilou bastante em La Liga – permitindo a aproximação de seus rivais na tabela de classificação. Mas a temporada anterior evidenciou que o técnico não poderia contar com Vermaelen, Bartra e Mathieu.

O belga esteve apto, mas claramente não tinha a confiança do técnico. Já o espanhol, não se sabe o motivo, sequer era especulado para o rodízio. Com relação a Mathieu, que foi importante com gols contra Real Madrid e Celta (na temporada anterior), teve queda de rendimento.Esperar que Mascherano salvasse o time, com essa improvisação que vem sendo feita desde 2010, é um equívoco. Logo, só Gerard Piqué teria lugar cativo. Deu certo no triplete porque tudo foi friamente analisado. Para o atual momento, um erro.

Rotatividade pelo meio

Busquets, Iniesta, Rakitić, Rafinha, Sergi Roberto, Samper e Arda Turan. No papel, excelentes titulares e bons nomes para a reserva. Mas quem seria o reserva de Busquets? Samper, que é tido na Catalunha como um jogador refinado, não teve oportunidades. Rafinha sofreu séria lesão na partida contra a Roma, o que o afastou dos gramados por um longo período. Sergi Roberto teve de atuar em sete posições diferentes em função dos desgastes de Dani Alves (também lesionado), Jordi Alba e Busquets. Arda Turan, como já foi dito, só pôde jogar em Janeiro. Com Iniesta precisando ser poupado por causa de seus 31 anos, sobrou para Rakitić. Isso pesou, e muito, em seu futebol. O croata, até agora, é o atleta com o maior número de partidas na temporada: 55. Eis uma explicação para sua queda de rendimento.

Falta de atacante no banco

O rodízio feito no ano anterior, querendo ou não, preservou o trio MSN. Só que para tirar um dos três de uma partida, convenhamos, é complicado. As opções no banco: Munir e Sandro Ramírez. O que esperar de dois atacantes de nível tão baixo? O clube teve oportunidades de repatriar Nolito (Celta) e Denis Suárez (Villarreal). O que mais se repetiu na temporada? O adversário montava duas linhas de quatro, o Barça ficava refém, mas ofensivamente não tinha ninguém que pudesse sair do banco para fazer algo diferente.

Luis Enrique e diretoria confiaram muito no elenco que um ano antes foi campeão de tudo. Mas é do entendimento de todos que, para tantas competições, é necessário ter um plantel que lhe deixe confortável para eventuais mudanças. Vejamos o número de partidas dos dez titulares de linha, e a comparação com os quatro semifinalistas da atual edição Champions no mesmo critério.

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OBS: Nem todos os jogadores são titulares absolutos de City, Real, Bayern e Atlético. O que só comprova que, apesar das lesões, esses clubes demonstraram força no momento do rodízio.

Tirando os goleiros, que fazem o rodízio, todos atuaram em mais de 40 partidas. Até aí, tudo bem, pois muitas equipes precisam passar pelo mesmo processo. Entretanto, com o elenco reduzido e sem peças para o setor ofensivo, torna-se um desgaste que cobra seu preço na fase mais aguda das competições.

Um fato a ser levado em consideração é a sobrecarga de Busquets, Iniesta e Rakitić. Para que o sistema funcione, os três precisam estar na ponta dos cascos. Logo, com o evidente cansaço, quem sofre é o trio de frente, que também teve de viajar para jogos das Eliminatórias.A marcação alta perde em instensidade, e foi exatamente isso que muitos analistas perceberam.

Opções de banco, Munir não convenceu quando acionado; Rafinha vinha se firmando, mas contraiu uma grave lesão
Opções de banco, Munir não convenceu quando acionado; Rafinha vinha se firmando, mas contraiu uma grave lesão

Não há como reclamar do trabalho de Luis Enrique, pois não se conquista tripletes todos os anos. Porém, fazendo um levantamento frio, e não somente olhando para os números, ficou perceptível que essa sobrecarga gerou até mesmo uma perda no jogo coletivo do Barcelona. O texto retratou o desempenho técnico e tático de uma equipe diferenciada, mas que perdeu o “tato” em alguns pontos de seu tão famoso jogo coletivo.

Fora de série, o Barça ainda está na disputa por dois títulos. O planejamento não saiu conforme o esperado. E como vem por aí Copa América e Jogos Olímpicos, é bom ficar de olho para que os mesmos erros não se repitam na próxima temporada.

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