A proximidade de Klopp com seus jogadores

Sem muita gracinha e de coração aberto, Jürgen Klopp deu uma de suas melhores entrevistas desde que assumiu o Liverpool. Com um inglês mais afiado, falou sobre diversos assuntos com a emissora de televisão BT Sports, sem entrar em pormenores técnicos ou táticos do time que está montando para a próxima temporada. Falou mais sobre a sua formação, seus estudos, sua filosofia, sua humanidade e a maneira como gosta de se relacionar com os seus jogadores.

Vale a pena ver o papo inteiro no vídeo abaixo, mas destacamos os principais trechos.

Relação com jogadores

Eu amo seres humanos. Acho que somos uma espécie boa. Na maioria do tempo, conheço pessoas interessantes. Gosto de ter relações com outras pessoas. Não tenho tempo para todas elas, mas, para os meus jogadores, tenho todo o tempo do mundo. Tento entender por que eles são como eles são. Acho que isso é importante. Já tive momentos na vida em que percebi que as pessoas confiavam em mim, pensavam que eu era mais esperto do que realmente sou. Tento passar esse otimismo. É um esporte de equipe, e você dá informações para um time, mas tem que ter influência em vários indivíduos em situações diferentes: jovem, velho, divorciado, casado, um filho, cinco filhos. Descobrir o que eles precisam é meu hobby. É o que eu gosto de fazer. Para mim, é fácil ser próximo dos jogadores. Talvez seja mais difícil para os jogadores serem próximos do técnico.

Época de aluno

Percebi que não era um jogador de futebol muito bom. Fui estudar a ciência do esporte. Era um homem muito ocupado, jovem, tinha vários trabalhos. Jogava na terceira divisão, que não é a divisão em que pagam melhor na Alemanha. Fiz o que precisava fazer. Era um estudante ok, não ótimo. Eu não tinha muito tempo. Um dia, fui ao professor que era responsável pelo meu trabalho. Queria fazer algo sobre as costas, pois havia milhares de trabalhos sobre isso. Queria juntar alguns deles em um só, porque não teria tempo para fazer algo de verdade. Ele falo: “Eu sabia o que você ia perguntar, mas tem um americano fazendo algo completamente diferente, e o seu trabalho é descobrir mais sobre ele”. Nunca tinha ouvido uma palavra sobre isso. Foi difícil encontrar informações. No fim, fiz o trabalho e, para ser honesto, nunca mais pensei nisso.

Caráter

A formação de caráter nunca está completa. Se você criar as circunstâncias certas, todos podem melhorar. Não é sobre sempre dizer “você é o melhor”. Não posso falar para os meus filhos todas as vezes que eles são fantásticos. Eu cometi muitos erros na vida, então digo a eles: “Você não precisa tentar fazer isso, eu já fiz, não dá certo”. Eu já passei pela maioria das situações pelas quais os jogadores passam. Por isso, dou bons conselhos.

Torcida

Existem coisas muito mais importantes que futebol, mas, quando você está envolvido com um jogo, parece a coisa mais importante do mundo. E isso acontece apenas porque há uma ligação entre o time e a torcida. Se eles não estivessem interessados, poderíamos fazer aquilo que quiséssemos. Temos que lhes dar a possibilidade de comemorar conosco ou sofrer conosco. Os dois são melhores quando fazemos juntos.

Por que o Liverpool?

Não foi porque achei parecido com o Borussia Dortmund. Eu não consigo explicar direito. Foi uma decisão clara. Quando o Liverpool ligasse, eu viria. Não consigo explicar direito por quê. Eu não teria interrompido minhas férias por todos os clubes do mundo. É parecido em algumas partes com o Dortmund, diferente em outras. Nós vamos fazer nossa própria história. Já temos a base para uma grande história, tivemos ótimos momentos. Todos têm permissão para serem otimistas sobre o futuro.

Conselhos para técnicos jovens

Você pode ser o melhor treinador do mundo, mas, no clube errado, será muito difícil. Pode ser o melhor treinador do mundo, no clube certo, com o CEO errado, será mesma coisa. Quando escolher seu clube, abra os olhos, tome boas decisões.

Trabalhar na Inglaterra

Foi fácil porque somos similares, alemães e ingleses. Algumas vezes eu penso que deveria trazer um padeiro alemão porque nosso pão é definitivamente melhor. Mas o resto é muito bom. Eu conheço esse país. Meu primeiro contato com a Inglaterra foi quando tinha 19 anos. Eu sabia que, se fosse possível, eu voltaria a morar aqui. Ninguém corrige meu inglês porque eu sou o chefe, mas todos me entendem e não estou aqui para melhorar meu inglês. Espero que isso aconteça nos próximos anos. Mas é muito excitante. É fácil amar a Inglaterra.

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