
Ricardo Gomes retribuiu chance no Botafogo
O ano era 2011. O mês, agosto.
Lembro como se fosse ontem. Tinha tudo para ser só mais um clássico entre Vasco e Flamengo no Brasileirão. Mas não foi. O problema de Ricardo Gomes à beira do campo – que mais tarde descobriríamos ser um AVC – causou comoção instantânea em todas as torcidas do Brasil. Menos a do Flamengo, que, desumanamente, gritava “uh, vai morrer” – mas isso não vem ao caso agora.
Por um capricho do destino, a tragédia aconteceu no Estádio Nilton Santos. Mesmo palco onde, quatro anos depois de temer pela sua morte, celebramos a sua vida. Em agosto de 2015, Ricardo fez a sua estreia pelo Botafogo ao assumir o cargo do demitido René Simões. Até mesmo um empate sem gols com o Luverdense em casa ficou em segundo plano diante daquela vitória maior.
No entanto, a história não seria tão romântica quanto se desenhava. Ricardo chegaria ao título da Série B, mas não agradava à maioria dos botafoguenses. Eu mesmo, sem mea-culpa, critiquei o treinador por diversas vezes aqui no blog. E o fiz com argumentos, pois o time realmente jogava um futebol burocrático e preocupante.
Eis que vieram as férias. Para Ricardo, provavelmente, nada de descanso; só muito estudo no período de recesso é capaz de justificar tamanha mudança. Com o tempo da pré-temporada para reformular seu sistema de jogo e encaixar as novas peças, nosso treinador surpreendeu e fez do plano tático a sua maior qualidade. Embora o time seja fraco tecnicamente, ele consegue fazer rodar e, principalmente, ser competitivo.
De 2011 a 2014, Ricardo era tido como aposentado dos gramados. Em 2015, teve um retorno sem brilho. Em 2016, diante das lindas voltas que o mundo da bola dá, se tornou fundamental – a ponto de ter o seu “fico” aguardado com ansiedade e muito comemorado pelo clube e pela torcida. O Brasileirão se anuncia muito difícil, mas Gomes será peça-chave. Sem ele, o futuro se desenhava sombrio. Com ele, a esperança renasceu.
Na semana passada, Ricardo afirmou que seu 2016 seria alvinegro, tranquilizando a todos. Já ontem, na coletiva pós-jogo, disse que havia proposta e sentaria para conversar. O jornalista Mauro Cezar praticamente cravou sua ida ao Cruzeiro – inclusive apontando uma data de apresentação -, que agora ficará chupando o dedo após mais uma negativa de treinador. Não sei qual foi o acordo em General Severiano, mas certamente nosso técnico levou em conta quem apostou nele quando ninguém mais confiava – nem nós mesmos.
Fugindo do romantismo novamente, espero que a reunião não tenha sido apenas para estipular um aumento salarial. Ricardo, mais do que ninguém, sabe das condições do nosso elenco; por isso, espero que a exigência tenha sido, principalmente, acerca de reforços dignos de Série A. Afinal, é a cabeça dele que estará em risco nos próximos 7 meses.
Que venha o Brasileirão e todas as suas 38 batalhas. Estou, mais do que nunca, fechado com o Ricardo – e aguardando ansiosamente as contratações.