
Eurocopa: o futebol e o racismo
Numa época em que o futebol é protagonista de mega eventos como a final da Liga dos campeões, com a seleção alemã se preparando para a Eurocopa na Suíça, era para o torcedor deitar e rolar. Esse ano, e os alemães amam isso, não haverá a seca do tempo das férias da Bundesliga. Quando a Eurocopa tiver coroado sua melhor equipe, a mídia já estará focada no carrossel das transferências e suas janelas temporárias, na compra de reforços e nos treinos preparativos de cada equipe. Esse ano não tem secura durante as férias escolares. As condições são favoráveis para os aficionados em futebol.
Pegando carona
AfD, um partido populista de direita e que já se encontra em campanha eleitoresca para as eleições parlamentares de 2017, oportunamente, optou por pegar carona na visibilidade do megaevento que é a Eurocopa.
Um dos chefões do partido, Alexander Gauland, escolheu como alvo de seu notório racismo o jogador Jerome Boateng, do FC Bayern. O zagueiro é afrodescendente, nascido em Berlim, no bairro de tradição operária de Wedding, de mãe alemã e pai ganês: A maioria das pessoas admira o desempenho de Boateng como jogador, mas ninguém quer te-ló como vizinho, polemizou Gauland em entrevista concedida ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung.
Com essa atitude, Gauland envia sinal bem claro para adeptos do partido e para aqueles ainda relutantes em se filiar. Sendo coerente com o discurso separatista da cartinha partidária, ele jogou tudo no ventilador.
O tiro no pé é caracterizado além do cunho racista também pelo irracional já que Boateng mora numa vila de luxo num bairro caríssimo cidade de Munique. Para viver lá, tem que estar podendo, com uma situação financeira robusta e bem confortável, algo raro no perfil dos membros do partido.
Reações nas redes sociais
A rapidez do acesso a notícias na era do pos-globalizado não somente possibilita-nos assistir a divertida dança do jogadores do FCBayern na cabine depois da conquista da Bundesliga, mas também num caso como destes pintam, quase de imediato, hashtags como #jeromeboateng e #Garland para expressar solidariedade com o jogador da seleção e zoar com o protagonista.
“Quisera o Boateng mudar para o meu bairro. Eu ajudaria na mudança”.
Outro usuário mandou:
“Se ele mudasse pra perto da minha casa, eu me tornaria o tio mais cool da familia. Meus sobrinhos viriam me visitar todas as semanas”.
Indagado no inicio da noite de domingo (29) sobre o ocorrido envolvendo seu nome, comedido como sempre, Boateng respondeu: Eu não tenho nada a dizer sobre isso. Eu só posso sorrir. Porém, acho triste que hoje ainda aconteçam essas coisas.
Na declaração, sem tecer detalhes e muito menos entrar no âmbito politico do caso, pode-se constatar a estratégia midiática delineada por Oliver Bierhoff, empresário da seleção e autor do Golden Gol no minuto 95 na Eurocopa de 1996.
No inicio desta segunda-feira (30) a conta do Twitter do Ministério das Relações Exteriores, exibindo uma foto de Boateng, anunciava:
“Hoje iniciamos as nossas atividades no Twitter, com o nosso Capitão“.
O posting é de cunho estratégico, já que se sabe que um escândalo desses rapidamente se espalha pelo mundo e o posting intui ratificar que o alto escalão do governo apoia o jogador.
Na noite de domingo (29), o autor do comentário de cunho racista tentou dar marcha ré e anunciou que não foi isso o que quis dizer, atitude comum dos populistas que bem sabem que a Internet não esquece. Até que se prove que focinho de porco não é tomada, muitas doses de xenofobia já terão se impregnado nas cabeças de analfabetos políticos.
A chanceler Merkel, através de seu porta-voz, classificou as declarações de Gauland como sórdida e ao mesmo tempo triste.