A despedida de Daniel Alves

Daniel Alves convocou uma entrevista coletiva, em maio de 2015, e soltou os cachorros. A aproximadamente um mês do fim do seu contrato, reclamou que não sentia o apoio da diretoria e estava com “um pé, meio corpo e quase toda a cabeça” fora do clube. Mas ficou. Renovou seu acordo, jogou mais uma temporada com a camisa do Barcelona, sua oitava, e anunciou esta semana que deixará o clube, como um dos maiores jogadores de sua história, nos seus próprios termos.

Se havia claramente atrito um ano atrás, desta vez os discursos estão afiados. O diretor esportivo Robert Fernandez confirmou a decisão de Daniel Alves, que se despediu dos torcedores no Instagram.

“Aqui fui feliz. Aqui sou feliz. E se não estiver aqui, também serei feliz, porque sou mais um de vocês. Obrigado por todas as mensagens e por ter me aceitado com minha loucura. Quero apenas dizer que tudo que fiz foi de coração. Não sei viver de outra maneira. Sempre faço o que meu coração pede, e meu coração louco é o único que tenho nesta vida. (…). Sou um privilegiado, um futebolista trabalhador e honrado, a quem a vida permitiu vestir a camisa do melhor clube do mundo em uma década prodigiosa pela qualidade de seus jogadores e treinadores. (…) Tomei a decisão de buscar um novo desafio na minha carreira”, escreveu, em dois posts.

Quando começou o último ano do seu antigo contrato, Daniel Alves não vinha de uma boa temporada. Havia jogado menos do que estava acostumado com Tata Martino (apenas 26 jogos como titular dos 38 do Campeonato Espanhol) e parecia estar entrando na fase decadente da sua carreira. Isso se refletiu na própria seleção brasileira, na qual Dani Alves foi preterido por Maicon a partir das quartas de final.

Daniel Alves sendo apresentado no Barcelona, em 2008
Daniel Alves sendo apresentado no Barcelona, em 2008

A renovação com o Barça parecia quase fora dos planos à medida em que rumores de transferência para o Manchester United e o Paris Saint-Germain surgiam. Mas o brasileiro deu uma espetacular volta por cima, voltando a apresentar um grande futebol, e foi importante na conquista da Tríplice Coroa. Mesmo com a contratação de Aleix Vidal (que só poderia estrear em janeiro), chegou a um acordo com o Barcelona para ficar mais uma temporada.

Não seria justo para ninguém que o divórcio fosse litigioso, pois Daniel Alves pode ser considerado o melhor lateral direito da história do Barcelona e um dos maiores jogadores de sua história. Em oito anos no clube, é o segundo estrangeiro que mais vezes vestiu a camisa do clube, com 391 partidas, atrás apenas de Messi. Conquistou 23 títulos (seis Espanhóis, quatro Copas do Rei, três Champions League, quatro Supercopas da Espanha, três Mundiais e três Supercopas da Europa), sendo duas Tríplices Coroas. E ainda é o jogador que mais assistências deu para Messi.

Mais do que números e fatos, Daniel Alves conseguiu o carinho da torcida com seu jeito irreverente (às vezes até demais), brincalhão (às vezes até demais) e por ter entendido o que significa ser um culé, torcendo ou jogando. Da sua maneira, foi um dos líderes do vestiário e um ímpar companheiro: chegou a oferecer parte do seu fígado, colocando em risco a própria carreira, para ajudar Abidal a vencer o câncer que o abalou em 2011.

Sergi Roberto e Aleix Vidal são as opções imediatas para repor a saída de Daniel Alves, mas será uma missão complicada para Luis Enrique. Se o brasileiro sempre sofreu defensivamente, não é fácil encontrar jogador que tenha sua qualidade ofensiva e sua polivalência. Lateral, meia, ponta: ele já fez de tudo pelo lado direito do Barcelona.

Uma personalidade que nem a dele, goste ou desgoste, também não existe em muitas pessoas. Por decisão própria, Daniel Alves sai do Barcelona sabendo que deixou para trás algo especial e que o clube catalão sempre cuida dos seus. “Vou, mas voltarei, porque sou mais um culé”, finalizou.

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