Vitória da Inglaterra é uma história de sorte e azar

Bons jogos de futebol costumam ter boas viradas. Tem jogo que da vontade até de ver mais uma vez. Desde o primeiro momento até o último se via uma esperança, mas no final tudo ficou nublado. Quando soou o apito final, o que parecia o resultado mais provável – uma vitória por 2-1 para a Inglaterra – foi a que havia se tornado real. Mas a imaginação de ambos os lados tinha tomado um caminho tortuoso até lá. As duas seleções já tinham imaginado todas as possibilidades.

Durante grande parte do primeiro tempo, a Inglaterra dominou, empurrando Gales mais e mais para trás. Em seguida, Wayne Rooney cometeu uma falta desnecessária, mas aparentemente inofensiva um pouco longe da meta inglesa. Dai saiu o primeiro turno.

Aos 42, Gareth Bale, a grande esperança Galesa, tomou distância para bater a falta. Ele se ajeitou claramente para bater direto; ele não demonstrou outra coisa. Joe Hart, goleiro Inglês, colocou uma barreira de três homem. Ele se estabeleceu em sua posição sobre o lado direito do gol. Bale fez sua corrida e chutou a bola por cima da barreira, que não bloqueou o chute e sim a visão de Hart. A bola começou a cair, e Hart mergulhou para a esquerda. Ele tentou desviar o chute mas não conseguiu desviar o suficiente, e teve que virar a cabeça para ver os galeses assumirem a liderança.

É difícil descrever o sentimento no estádio quando a bola entrou no gol. O canto galês no apertado canto da torcida explodiu, tendo feito o primeiro gol contra a Inglaterra desde 1984. Um empate seria bom o suficiente para vê-los em segurança na fase de grupos; uma vitória seria mais como um sonho se tornando realidade.

A torcida inglesa – que ocupava três quartos do estádio – começou a contemplar a possibilidade de mais um pesadelo. Mais uma vez, foi um goleiro Inglês que cometeu um erro em um grande torneio. Quais podem ser as suas consequências? A perda poderia levar a uma série de coisas: Roy Hodgson perderia seu posto, Rooney perderia a faixa de capitão.No final do primeiro tempo, cortinas pretas estavam começando a cair na frente dos olhos ingleses.

“Aceitar esse gol pouco antes do intervalo foi uma coisa difícil de tomar”, Hodgson disse depois. “Eu não estava pensando, que eles poderiam marcar a qualquer momento aqui.’ Numa cobrança de falta profunda longe essa, eu realmente não estava esperando ir para o intervalo perdendo de 1-0. ”

Mas então, no intervalo Hodgson fez uma dupla substituição fundamental e a Inglaterra voltou diferente, com um futuro diferente a vista. Jamie Vardy entrou no lugar de um invisível Harry Kane. Daniel Sturridge assumiu o lugar de Raheem Sterling. Mas muito mais tinha mudado.

No minuto 56, em um cruzamento na área galesa. Ashley Williams saltou no meio da muvuca para tentar afastar a bola, mas, em vez disso colocou ela de volta para seu próprio gol. Vardy, recebeu um belo presente. Ele chutou a bola para o gol pois estava de frente para ele.

Estava 1-1. A partir dai, diferentes cálculos foram sendo feitos através da visão dos ingleses. O resultado ainda serviria para os galeses, não precisando de nenhum resultado no seu último jogo contra a Rússia, exceto para ficar com a liderança do grupo. Para os ingleses, por outro lado, ainda exigiria algo em sua última partida da fase de grupos contra a Eslováquia para garantir um lugar entre os 16.

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Roy Hodgson diz que ficou emocionado com a rapidez com que o azar da Inglaterra contra a Rússia se transformou em alegria contra País de Gales.

E parecia que a partida terminaria assim. Os galeses se retrancaram e sufocavam o ataque Inglês. Eles não incomodavam. Três minutos de de acréscimo foi deixado para decidir muito do que iria acontecer.

Mas quantas vezes as coisas mudaram em 3 minutos?  Muitas vezes em até menos. Apenas alguns segundos foram precisos para abalar os ingleses em seu primeiro jogo, quando eles dominaram os russos, mas sofreram um gol no último minuto deixando o campo de batalha de Marselha com apenas um empate.

Desta vez, a Inglaterra fez um jogo compacto com uma série de passes curtos, Sturridge tabelou com Dele Alli, a defesa galesa entrou em colapso ao seu redor. Sturridge chutou em direção ao gol galês e no canto direito de Wayne Hennessey. A bola desviou após uma queda Chris Gunter e bateu na perna de Hennessey antes de entrar na rede.

“A grande sensação”, Sturridge disse depois. “Inacreditável.”

Houve tumulto no time Inglês. Houve silêncio no País de Gales. O que os russos tinham feito para com os ingleses, agora os ingleses tinham feito com eles.

“É o que eles sempre dizem no futebol, não é? Um dia azar no outro sorte”, disse Hodgson. “Não é provável que isso aconteça no próximo jogo.”

Por outro lado, o técnico do galês Chris Coleman esbravejou quando foi questionado sobre o domínio Inglês sobre sua equipe. Ele ainda não tinha tido tempo para se adaptar a essa nova história, a terceira e última parte da tarde.

“Você poderia estar me fazendo essa pergunta se eles não tivessem marcado nos últimos 30 segundos?” ele perguntou de volta.

Não, mas eles marcaram nos últimos 30 segundos.

“Você não pode me dizer que meus jogadores mereciam isso”, acrescentou.

Não, mas no final é isso que o futebol e seus muitos destinos tinham decidido lhes dar. Sorte e azar.

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