
A impunidade para torcidas deve acabar
Estamos todos eufóricos com as Olímpiadas e estamos recebendo muitos estrangeiros no país. Um garoto Europeu chega a cidade e começa a se acostumar com os brasileiros e com a língua. Em um dia decide comprar um jornal e quando vê as notícias tem um baque.
Primeira notícia: os desdobramentos de uma briga que ocorreu um mês antes na saída de uma boate. Dois jovens, que não estavam na casa noturna, teriam assassinado a tiros um homem que saía do local e foram presos.
No segundo artigo: Acontece um assalto em ponto de ônibus. As pessoas que estavam ali esperando o transporte para irem para casa acabaram sendo assaltadas por um bando de bandidos. No final do artigo ele lê que os bandidos foram presos.
Terceira notícia: uma nota de fim de página dá conta de que uma dupla de jovens foi presa após arranjar confusão e quebrar várias fachadas e vitrines de lojas locais em uma madrugada.

Já na parte de esportes do jornal, o estrangeiro acha que voltou à seção policial: um confronto entre “torcedores” antes de um clássico da cidade ocasionou uma morte. Cerca de 20 pessoas foram detidas, mas nenhuma informação sobre punições. Algumas matérias depois, uma nota diz que dezenas de baderneiros, que haviam roubado pessoas na saída de uma partida importante válida pelo principal torneio continental, foram soltos sem maiores desdobramentos.
Outro artigo dizia que alguns torcedores vândalos chegaram a entrar na torcida adversária simplesmente para brigar, não satisfeito ainda fizeram estragos no estádio. Aquelas famílias que estavam ali para ver o jogo foram prejudicadas, pois a polícia usou gás de pimenta para conter a confusão.
Para a surpresa do europeu, havia uma foto muito nítida no jornal que identificava praticamente todos os envolvidos. Ainda assim, 15 dias após o ocorrido, todos já estavam em suas casas, prontos para brigar ou fazer o que quisessem no jogo seguinte.

Sem entender porque a página de esportes se transformou em uma segunda seção policial, o turista pesquisa na internet mais informações. Em alguns minutos, ele acha uma “solução” para o problema: em jogos grandes, como clássicos locais, apenas uma torcida teria o direito de assistir à partida. Uma medida sem lógica para o estrangeiro, afinal, a maior parte das confusões aconteceu fora do estádio.
O turista curioso vai atrás de mais informações e descobre que a forma de se punir estas atitudes são tirando mandos de jogos dos clubes o até jogando com portões fechados, punindo assim o verdadeiro torcedor e deixando aqueles que mereciam a punição livres.
Não leva muito tempo até o jovem turista perceber: futebol é o álibi perfeito no Brasil! Para quem deseja extravasar suas raivas do cotidiano com uma “boa briga”, basta esperar um dia de jogo, vestir uma camisa relacionada a um dos times e sair à forra. Para quem quer praticar algum roubo sem ser punido, também é o cenário perfeito. Não é preciso sequer comprar ingressos para o jogo: crimes que acontecem nos arredores do estádio – ou até mesmo longe, desde que seja no dia do jogo – também são tratados como “briga de torcidas” e não como um crime normal.
Muitos falam que somos o país do futebol e outros dizem que somos o país da impunidade. Qual desses deveríamos ser taxados?
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