Não adianta apenas trocar o técnico.

Paulo Bento não é mais técnico  do Cruzeiro. O treinador carrancudo não durou nem um semestre no cargo do clube e deixou a roposa sem nenhum motivo para comemorar.

Não tinha mesmo motivos para ficar feliz. Enfrentou uma maratona de 17 partidas em 75 dias, média de duas por semana, uma semana atrás da outra. Teve que entender o futebol brasileiro e montar o time ao mesmo tempo, durante o campeonato, com jogadores sendo contratados e estreando toda hora. Se o desempenho em campo não foi tão ruim, os resultados foram: seis vitórias, apenas uma em casa pelo Brasileirão, três empates e oito derrotas.

Mesmo sendo o time mais rico do Brasil em 2015, o Cruzeiro não fez contratações pontuais e deixou a desejar. Conheça os clubes mais ricos em 2015.

Na zona de rebaixamento o Cruzeiro manteve a postura de todo clube brasileiro. Diante de maus resultados não teve convicção de sustentar sua escolha e aposta. Mais uma vez uma decisão ousada de tentar mudar o futebol brasileiro foi por agua abaixo com a decisão de trocar de técnico.

O questionamento, no entanto, é: o que a diretoria do Cruzeiro esperava? Um feiticeiro? Paulo Bento foi anunciado em 12 de maio. Ainda observou de longe a derrota para o Coritiba, dois dias depois, e estreou no banco de reservas contra o Figueirense, no dia 21 daquele mês. Começou a aprender todas as peculiaridades do futebol brasileiro, como o ritmo acelerado e intermitente de dois jogos por semana, o que é mais raro em Portugal e na Europa. O Porto, com Champions League, Liga Europa, Copa da Liga e Taça de Portugal, teve 17 semanas cheias na última temporada inteira. No Cruzeiro, só com Brasileirão e na Copa do Brasil, Paulo Bento enfrentou sete.

Uma coisa que nossa cultura futebolística não permite é o rodízio de jogadores, uma vez que os clubes aqui no Brasil não possuem jogadores substitutos bons o suficiente para ganharem de clubes menores como em jogos pela Copa do Brasil. Diferente da Europa as taças aqui acabam sendo muitas vezes prioridade de clubes grandes por causa do prêmio com a vaga na Libertadores.

Requer tempo para os jogadores acostumarem-se a uma nova metodologia de trabalho e também para Paulo Bento conhecê-los profundamente, por mais que tivesse um conhecimento superficial do elenco do Cruzeiro. Precisa aprender outras peculiaridades do futebol brasileiro, como a logística de longas viagens. No final de maio, o Cruzeiro jogou no Recife, na quarta-feira, em Belo Horizonte, no sábado, e em Brasília na quarta seguinte. Um deslocamento total de 5.400 kms em uma semana, o suficiente para ir de Lisboa até a cidade do Porto e voltar nove vezes.

Todos sabiam que era necessário um tempo para o treinador se adaptar. Mas a desorganização do Cruzeiro era tanta que ao invés de o contratarem bem antes de começar o campeonato Brasileiro, eles esperaram o campeonato começar para contratar o técnico, onde ele teria que armar todo o time com o campeonato em andamento.

Foi apenas mais uma decisão ruim do comando do Cruzeiro, que as vem colecionando desde que demitiu Marcelo Oliveira, no meio do ano passado. A contratação de Luxemburgo era uma tragédia anunciada. E, se acertou com Mano Menezes, errou ao apostar em Deivid sem a convicção de que ele poderia fazer um bom trabalho. Ou, pelo menos, com uma convicção tão frágil que não aguentou a eliminação na semifinal do Campeonato Mineiro.

O campeonato já estava em sua 14º rodada e ainda havia um vai e vem de jogadores no clube. Atletas como Rafael Sobis e Edimar chegaram no meio do campeonato e não foram só eles. Até sexta passada ainda estavam chegando jogadores como Denilson que ainda nem estreou. Porém não só chegavam jogadores como também saiam. Fora o fato de ter muitos jogadores importantes no departamento médico como Dedé, Alisson, Mayke e Marciel.

A dúvida na hora de considerar a demissão do treinador é se o time mostra sinais de que o trabalho dará certo. E o Cruzeiro mostrou. Teve alguns ótimos momentos, como a vitória sobre o Atlético Mineiro, no Independência, e sobre o Palmeiras, líder do Brasileiro, no Mineirão. Goleou a Ponte Preta no Moisés Lucarelli, onde a Macaca só perdeu um outro jogo, para o Flamengo. De Arrascaeta teve ótimos momentos atuando sob o seu comando.

Mesmo na derrota o time do Cruzeiro não mostrava que era um time ruim e sem padrão. O clube sofria por alguns erros defensivos e a falta de pontaria de seu ataque. Em uma entrevista, Paulo Bento foi questionado como melhoraria o ataque de seu time, sendo que no jogo contra o Sport foram 30 chutes com apenas 11 chegando ao alvo. O treinador disse que a única forma de melhorar seria intensificando o treino de finalizações.

Como Bento também disse, uma das tarefas mais difíceis de uma equipe é criar oportunidades, e isso o Cruzeiro está fazendo. É o terceiro time que mais chuta a gol no Brasileiro (média de 15.1 por jogo), o quarto que mais acerta as finalizações (5.1) e o quinto que mais arremata de dentro da área (7.3). Tem o terceiro índice de posse de bola (53,5%) e o sexto de passes certos (80%). A missão é transformar isso em gols e vencer os jogos, e obviamente faltam ajustes para concretizá-la, mas o técnico não pode colocar a bola dentro do gol sozinho.

Não estou dizendo que o Português não errou. Sim ele teve seus erros, mas uma coisa que todo treinador está sujeito a fazer, principalmente no começo de trabalho. A torcida o criticava muito por insistir em usar Allano no time titular, e muitas vezes suas substituições não foram as melhores. Mas isso acontece em todo começo de trabalho e com o tempo isso vai mudando. Mas Paulo Bento infelizmente não teve esse tempo e foi mais uma vítima da falta de organização do Cruzeiro.

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