O que representa um técnico para a seleção

O técnico nos dias de hoje tem sido cada vez mais importantes para o futebol, é ele quem dirige o time e mostra o caminho para a vitória. Mas ele não é como um maestro que precisa saber tocar mais que o regidos. Ele precisa enxergar o jogos como um todo, ver o que está certo e melhorar, ver o que está errado e corrigir, precisa extrair o máximo de cada jogador e saber se aproveitar das fraquezas do adversário. Isso nós podemos ver tanto nos clubes como nas seleções.

O técnico precisa deixar o time em sintonia como um maestro. A diferença é que ele não precisa saber tocar todos os instrumentos.
O técnico precisa deixar o time em sintonia como um maestro. A diferença é que ele não precisa saber tocar todos os instrumentos.

Porém, há uma diferença abissal entre técnicos de clubes e de seleções. Se, por um lado, ambos devem agir como maestros, não é da mesma forma que regem suas orquestras.

Os clubes oferecem alguns pontos positivos e negativos para o técnico. A parte boa é que o treinador passa todos os dias praticamente ao lado do jogador, podendo ajuda-lo a atuar em mais de uma posição. Além disso jogadores meio desacreditados mas com potencial podem ser trabalhados pelo treinador e começarem a render muito mais, fora que é muito mais fácil você impor um padrão de jogo sendo que aquilo é treinado todos os dias. O ponto negativo é que o técnico tem um número limitado de jogadores para poder trabalhar e ainda deve saber lidar com as situações de venda. Principalmente no Brasil que está acostumado a exportar jogadores. Para manter os jogadores o técnico precisa ser diferenciado de modo que ganhe a confiança de seus jogadores a ponto de eles joguem pelo técnico e entendam seus objetivos de modo que os abracem e entendam que teriam mais a ganhar dentro do clube do que saindo dele mesmo que para ganhar um salário muito maior. São poucos, mais ainda existem treinadores capazes disso.

Um belo exemplo é “El Loco” Bielsa que tem um padrão de treino mais radical e até nos clubes não consegue boas conquistas, porém deixa boas impressões pelos clubes que dirige
Um belo exemplo é “El Loco” Bielsa que tem um padrão de treino mais radical e até nos clubes não consegue boas conquistas, porém deixa boas impressões pelos clubes que dirige

Com a seleção também há uma vantagem e uma desvantagem. A vantagem é que, como o jogador, uma vez tendo vestido a camisa de sua seleção em um jogo oficial não pode mais mudar de país, naturalizando-se por outra nação. Então, o técnico não vai lidar com pressões nesse sentido, ademais, ele tem um leque de opções maior, não havendo a necessidade de estar com 30 ou 35 atletas por temporada, ele tem opções de 50 a 60 nomes, dos quais convoca 23 para cada “rodada de jogos”. A desvantagem é o tempo exíguo de trabalho: não havendo tanta possibilidade de adaptar os jogadores ao seu próprio estilo, o treinador de seleção precisa ser menos cheio de certezas e entender como o grupo dos melhores jogadores que possui podem ser armado, qual é o estilo que podem desenvolver e, a partir disso, organizar um plano de jogo, tendo em conta também opções alternativas para momentos específicos.

Balanceando os fatos podemos dizer que em clube existem mais chances e oportunidades para um técnico impor seu estilo de jogo aos seus comandados. Aquele treinador de mente mais fechada que acredita apenas em suas ideias tem mais possibilidades de dar certo em um clube. O cara pode conseguir se dar melhor com um número limitado de jogadores e com a cooperação de sua comissão pode mudar jogadores para posições diferentes e até ajudar a melhorarem seu jogo, deixando o time do jeito que ele quer.

Algo interessante que ocorreu com as duas últimas seleções campeãs do mundo na copa de seleções de futebol foi a mescla de um trabalho de seleção com um trabalho forte de um treinador em um time que serviu de referência para essas seleções, pois continha seus principais jogadores titulares. Tanto Espanha quanto Alemanha contaram, respectivamente, com o trabalho de Pep Guardiola no Barcelona e no Bayern de Munique. E, nesse sentido, a função dos treinadores das duas seleções foi conseguir “completar lacunas” dos jogadores de outras seleções que não eram da mesma nacionalidade, exemplo: Messi no Barcelona e Lewandowski no Bayern. Esses dois trabalhos mostram bem como a inventividade do técnico de clube e a maior capacidade de assimilação, sem tanta criatividade, do técnico de seleção é fundamental para que um e outro tipo de trabalho seja acertado.

Joachim Löw conseguiu sair do cargo de auxiliar técnico para o cargo de Treinador e vem colocando bases de times como o Bayern de Munique para compor suas equipes.
Joachim Löw conseguiu sair do cargo de auxiliar técnico para o cargo de Treinador e vem colocando bases de times como o Bayern de Munique para compor suas equipes.

Se os treinadores de seleções querem dar uma cara para sua equipe acabam demorando muito mais para dar resultados, porque ao contrário daquele que já sabe utilizar o melhor de cada jogador em seu clube ele acaba ficando dependente dos melhores jogadores da equipe deixando de ser uma equipe boa sem algum jogador especifico. Dois pontos precisam ser identificados logo pelo treinador de seleção. O primeiro é que por não ter muito tempo para treinar o técnico deve identificar os melhores jogadores e em quais setores eles estão, montando assim um time que explore mais aquele setor. Os últimos campeões do mundo nos provaram que isso é uma verdade. Começando pelo Brasil em 2002 que explorava muito seu poderoso ataque. Os laterais sempre apoiavam no ataque e o meio campo tinha jogadores de extrema habilidade terminando em um centroavante fora de média. Por causa de seu ataque fulminante foi a única das quatro seleções que venceu a final no tempo normal; na copa de 2006 tivemos a Itália como campeã explorando sua forte defesa que dava a Totti condições de se preocupar apenas com o ataque. Pelo fato de não ser tão ofensiva acabou sendo campeã nos pênaltis; finalizando temos Espanha e Alemanha que exploravam mais o seu meio de campo. Cada uma do seu jeito. A Espanha mais no toque de bola enquanto a Alemanha apostava mais na ofensividade chegando muito ao ataque. Os treinadores dessas seleções escolheram um ponto forte de cada uma e a utilizaram como referência para o resto do time. Como pudemos ver as quatro foram campeãs do mundo. É claro que cada um teve sua particularidade e desafios, mas a tática foi a mesma.

Um treinador que foi subestimado foi Alejandro Sabella, mesmo assim provou que não era ruim e teve os melhores resultados com a Argentina desde 93.
Um treinador que foi subestimado foi Alejandro Sabella, mesmo assim provou que não era ruim e teve os melhores resultados com a Argentina desde 93.

O paradoxo do momento que muitos não entendem se não atentarem para esta diferenciação entre o “técnico de clube” e o “técnico de seleção” é o fenômeno “jejum argentino” que dura 23 anos. A Argentina possui uma grande quantidade de ótimos jogadores e de ótimos treinadores do mundo atualmente, mas, mesmo com tudo isso, não consegue um mísero título profissional desde 1993, quando não era bem assim. O problema consiste justamente no fato de que a maioria dos treinadores argentinos, com uma personalidade fortíssima, não atentaram ao ponto crucial desta diferença que tento traçar: imprimir o seu gosto, a sua vontade, a sua forma, é muito difícil em uma seleção, por não haver tempo para imprimir estas marcas nos jogadores. O momento mais alto de voo desta seleção argentina foi justamente com um treinador que soube entender o problema e se quedou a um “choque de realidade” utilizando o time da forma como ele melhor jogava, não como queria no início, sem, porém, abrir mão de uma ou duas alternativas para superar possíveis baixas durante o trabalho – o que, de fato, aconteceu na copa. Este foi o senhor Alejandro Sabella, vice-campeão da copa contra a Alemanha em 2014.

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