
Um novo reinado na Inter de Milão
A Inter de Milão é mais um dos clubes vendidos aos magnatas chineses. Desta vez quem comprou os direitos do clube foi a Suning Holding Group. O presidente da empresa comprou mais ou menos 70% das ações do clube por 270 milhões de euros.
O restante ficará ainda com Erick Thohir. A Suning é uma grande empresa chinesa do ramo imobiliário e possui uma renda de 20 bilhões de dólares. O grupo chinês já é ativo no futebol e é dono do Jiangsu Suning da China que conta com jogadores como Ramires e Jô. A empresa cuida também dos negócios da Premier League em toda a China.
O Suning Group está ainda envolvido em uma concorrência com outras gigantes da China para comprar a britânica Stellar, uma das agências de futebol mais importantes do mundo e que intermediou, por exemplo, a transferência de Gareth Bale para o Real Madrid. No último Football Money League, ranking feito com as receitas dos clubes na temporada (2014/15), a equipe italiana ficou na 19º posição com € 164.8 milhões. Newcastle United e Schalke 04, por exemplo, estão na frente da Inter. E, se comparada a times do mesmo país, também fica atrás do Milan (14°, com € 199.1) e da Juventus, atual campeã italiana, com quase o dobro em receita! (10°, com € 323.9).
Ficamos com uma dúvida no ar. Assim como os outros clubes comprados por magnatas a Inter de Milão voltará aos seus tempos de glória?
Para refletir sobre isso, vamos observar o retrospecto dos times no período anterior e posterior à venda dos clubes para investidores bilionários.
Chelsea FC:
O russo Roman Abramovich, empresário bem-sucedido do ramo de petróleo e gás, comprou, em 2003, o Chelsea Football Club por € 140 milhões (contando com a dívida do clube que assumiu). Logo na primeira temporada, o bilionário gastou outros 140 milhões de libras na compra de jogadores e levou o Chelsea ao vice-campeonato da Premier League, além de uma inédita semifinal da Liga dos Campeões. Os resultados, entretanto, não eram suficientes, e o que se viu nos anos seguintes foi um investimento cada vez maior atrelado às conquistas dentro de campo. Além disso, o sucesso em campo não está diretamente atrelado ao econômico, uma vez que, somente ao término da temporada 2011/12, o clube terminou no azul pela primeira vez sob a “nova” direção.
Em 98 anos de história, ou seja, até 2003, o Chelsea havia conquistados 11 títulos (sem contar os da 2ª divisão). Na era Abramovich, em 13 anos, o Chelsea conquistou QUINZE títulos: 4 Premier Leagues, 1 Champions League, 1 Europa League, 4 FA Cups, 3 copas da Liga e 2 Community Shield. Ou seja, a venda do clube o tirou do escalão mediano do futebol inglês e elevou ao posto de potência mundial.
Entretanto, o russo, até 2012, já havia gasto 70 milhões de libras somente em rescisões contratuais de treinadores, deixando claro que seu apego ao Chelsea em nada significa o mesmo sentimento por quem lá passa. Em treze temporadas, foram 10 técnicos, com Mourinho passando duas vezes. Guus Hiddink, técnico que comandou o time até o final dessa temporada (2015/16) , também estava controlando o time pela segunda vez. Essa falta de paciência com os técnicos não é um costume dos clubes europeus, mas é um problema que surgiu na administração do russo.
Paris Saint Germain (PSG):
Em 2011, 70% das ações Paris Saint Germain foram compradas pelo fundo catariano Qatar Investment. A venda envolveu uma quantia de 50 milhões de euros (aproximadamente R$ 197 milhões) e incluiu a absorção das perdas estimadas na época em 19 milhões de euros, e da dívida do clube, estimada no mesmo periodo entre 21 e 28 milhões.
A empresa Qatar Investment Authority, dirigida por um primo do sheik Nasser Al Khelaifi e cujo objectivo passa por investir milhões na produção de gás e petróleo no Qatar, designou Al Khelaifi como presidente do clube. Nasser Al-Khelaïfi apresentou um projeto de cinco anos para tornar o PSG em um grande clube na Europa, e consequentemente no exterior. O sheik trouxe o ex-futebolista e comandante, Leonardo, para ser o novo diretor de futebol da equipe francesa.
Embora Al-Khelaïfi esperasse uma brilhante temporada em 2011-2012, o PSG logo foi eliminado na Liga Europa e na Copa Francesa. Apesar de gastar mais de 132 milhões de dólares em jogadores, o PSG não conseguiu avançar e perdeu para o modesto Montpellier HSC. Na temporada 2012-13, foi eliminado novamente da Copa da França, desta vez para o Évian nos pênaltis, mas conquistou o título do campeonato francês.
Em 5 Temporadas foram mais de € 530 milhões em contratações. de grandes nomes como Zlatan Ibrahimovic, Thiago Silva, Di María, Lucas Moura ou David Beckham, numa tentativa de converter a equipa de Paris em um “grande europeu”.
Apesar dos problemas, cabe destacar que em 46 anos de existência, dos 28 títulos do PSG, 12 foram conquistados após o clube ser vendido; quase metade! ( quatro da Liga francesa, duas copas da França, três Copas da Liga e três supercopas da França)
Inclusive, o ídolo do clube, Ibrahimovic, falou em coletiva que “o PSG nasceu quando foi comprado”. Mesmo com isso tudo, o PSG nunca chegou a uma semi final de Champions League no atual modelo da competicão.
Chelsea e PSG são clubes europeus que passaram de médio porte para potências mundiais graças a seus compradores bilionários. Agora, pensando em um panorâma mundial, vemos grandes clubes brasileiros, centenários, mal das pernas pelas enormes dívidas que possuem. Vemos também o Parma sendo rebaixado para a quarta divisão italiana, na qual o futebol é amador, por ter sido obrigado a declarar falência. O ex-time de Taffarel, Amoroso, Júnior, Buffon, Thuram, Cannavaro, Crespo, que já conquistou duas vezes a Copa da Uefa (1995 e 1999), fez o anúncio em um comunicado em junho de 2015, após não aparecer um só interessado em assumir as dívidas milionárias do clube.
Vemos o Leicester incrivelmente ser campeão inglês, com um baixo investimento, 6 anos após ter sido comprado por um consórcio tailandês. O time que encantou o mundo é fruto do dinheiro de um bilionário; a única diferença é que ele tem menos dinheiro do que Abramovich e Al-Khelaïfi.
As grandes dívidas acumuladas e problemas do passado que assombram clubes de futebol são consequências do amadorismo e falta de planejamento existente na administração de clubes em diversos lugares do mundo. Entretanto, não há mais espaço para isso. Se não tivermos administrações com profissionais qualificados, existirão outros Parma(s) declarando falência e outras Internazionale(s) precisando ser compradas para se manterem vivas.
Você prefere os grandes clubes do Brasil saudáveis financeiramente e brigando de igual pra igual ou prefere que 4 bilionários venham ao Brasil e coloquem, por exemplo, Genus, Princesa do Solimões, Maringá e Metropolitano na série A, com investimento bem maior que a média, e acabe com o equilíbrio do campeonato?
Será que o futebol vai deixar de ser o esporte da emoção, do imprevisível, das reviravoltas, para se tornar o jogo de que quem paga mais, ganha mais?
Espero que não.
O futebol é uma caixinha de surpresas e não um cofre de dinheiro.