
Jürgen Klopp, o técnico que vence pela emoção
Em mundos competitivos não há consensos. E o futebol não foge à regra. Para lá da discussão de quem é o melhor jogador da atualidade, também na área dos treinadores a discussão e a decisão é complexa. Jürgen Klopp (ainda) não entra nessa discussão se é ou não é um dos melhores. É verdade que o seu trabalho era apreciado num clube mais unânime como era o Dortmund, mas desde que passou para o Liverpool a análise tem sido menos consensual.
Falar do alemão de 49 anos é falar de muitas emoções e claro, daquela corrida louca após o 5-4 já nos minutos de desconto onde, para lá dos festejos fantásticos com os seus jogadores, ainda perde os seus óculos. O momento é fruto muito mais do que um final louco em mais um jogo de futebol. Aquele momento proporciona-nos perceber que tipo de treinador é Klopp.
Klopp é um treinador relacional. Um coach. Alguém que permite liberdade aos seus jogadores. E como se observa isto com tão poucas imagens ‘lá dentro’? Um treinador que desate a cumprimentar os seus atletas após uma vitória frente ao Chelsea ou a correr para cima deles para festejar só o faz se os jogadores do outro lado corresponderem. É verdade que podiam apenas reagir. Mas percebemos que não, é genuíno de ambas as partes. Há cumplicidade para lá do sucesso da tarefa. Há ali muita intervenção no treino ou fora do jogo que nos permite perceber que uma relação pessoal é importante para o treinador alemão ou faz parte de uma das suas características de trabalho. Da identidade.
Um coach ou um treinador que dá liberdade porque necessariamente ninguém festeja assim com os jogadores se for um controlador ou apenas um autoritário. Comportamento gera comportamento e se um conjunto de feedbacks forem dados de determinado modo vai gerar aquilo que vemos nas equipes do alemão. Nem falo de resultados desportivos, falo de comportamentos.
O sucesso numa equipe de futebol está longe de depender apenas do treinador. Bem sabemos disso e é injusto atribuir a vitória ou a derrota apenas por causa do treinador. Existem muitas variáveis e muitos fatores. Mas o perfil ou o conjunto de ações de liderança de um treinador potencia ou castra um conjunto de mais-valias dos jogadores.
O Liverpool – até pela não responsabilidade de ser campeão esta temporada face aos mega-investimentos das outras equipas e dos holofotes estarem na cidade de Manchester – pode ter ali alguns ingredientes interessantes. Tempo para trabalhar e para alcançar resultados. Um plantel jovem, típico de quem gosta de trabalhar com aqueles conjuntos de comportamentos. Pouca pressão para já.
O alemão não é apenas um emocional puro. Acredito que não. Haverá uma balança e algo de holístico por ali. Mas aquilo que destacaria é essa característica: um emocional próximo. Costumo afirmar que temos de ser mais interessados do que interessantes, até porque mais tarde ou mais cedo, alguém interessado e com qualidade tornar-se-á muito interessante de seguir. Klopp é um desses casos! Vamos esperar para ver.