Real Madrid x Napoli, uma disputa que mudou a história da Champions

Sorteados como adversários nas oitavas-de-final da atual Champions League, Real Madrid e Napoli foram protagonistas de um confronto considerado determinante para transformar a competição no colosso que conhecemos hoje.

Era a temporada 1987/88. O Napoli estreava na Copa dos Campeões após conquistar seu primeiro título italiano, e foi colocado frente a frente com o Real Madrid logo na primeira fase. As duas partidas aconteceram em setembro de 1987.

O primeiro jogo, no Santiago Bernabéu, foi realizado com portões fechados, por causa de tumulto causado pela torcida madridista na semifinal da temporada anterior contra o Bayern de Munique.

Os dois times tinham desfalques importantes: o Real Madrid não contava com o goleador Hugo Sánchez, suspenso, e o Napoli tinha de esperar pela estreia do recém-chegado Careca, ainda lesionado. Nem por isso haveria falta de estrelas em campo, com Emilio Butragueño e Diego Maradona frente a frente.

Bem marcado, Maradona pouco produziu na partida, e o goleiro Claudio Garella foi responsável por evitar uma goleada. Míchel e Miguel Tendillo fizeram os gols da vitória merengue por 2 a 0.

Duas semanas depois, mais de 80 mil pessoas lotaram o estádio San Paolo para a primeira partida em casa do Napoli pela principal competição da Europa. Careca estava de volta, assim como Hugo Sánchez, mas foi o lateral Giovanni Francini quem fez o estádio explodir aos 9 minutos de jogo com o primeiro gol da noite.

Com fé na virada, o Napoli cresceu e perdeu chances, mas descuidou-se atrás. Fatal para alguém como Butragueño, que empatou o jogo aos 43 do primeiro tempo. O Napoli teria de fazer mais três gols para avançar, mas  os visitantes administraram sem sustos a boa vantagem.

O Real Madrid ainda eliminou o Porto, último campeão, e o Bayern antes de cair na semifinal para o PSV Eindhoven, que ficaria com o troféu. Mas por que aquele confronto com o Napoli foi importante para revolucionar a história do torneio?

Um duelo prematuro entre dois dos times mais fortes do continente, representando dois dos maiores mercados, significava apenas dois jogos na competição para um deles. Ruim para os torcedores, para as televisões e para os patrocinadores.

Silvio Berlusconi, que havia assumido o controle do Milan em 1986 e já dominava boa parte do mercado de televisão na Itália, chegou a contratar uma consultoria para analisar a viabilidade de uma liga europeia de clubes, que teria duas divisões com acesso e descenso. Como se vê, a ideia de uma “superliga” existe há muito tempo.

As coisas não aconteceram daquela maneira, mas os grandes clubes se conscientizaram de que a garantia de um número maior de grandes duelos continentais era necessária.

Começou ali a amadurecer a ideia de uma fase nobre na competição, com uma etapa de grupos comercializada de maneira especial e um número mínimo de jogos assegurado. A primeira edição com grupos (dois de quatro times) cada foi a de 1991/92, dando origem ao que se conhece como Liga dos Campeões desde 1992/93.

O formato foi expandido, deixou de abrigar apenas campeões para aumentar o número de participantes das principais ligas nacionais, até chegar ao modelo que conhecemos hoje, com 32 times na fase de grupos.

Tudo começou naquelas noites em 1987.

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