Conte deixa Mourinho e Guardiola para trás com táticas antigas

O Chelsea tem maior série de triunfos consecutivos de sua história. Muito do sucesso do líder se deve à expertise tática de seu treinador, o italiano Antonio Conte, que, mesmo menos badalado que os rivais, faz “medalhões” como Josep Guardiola, do Manchester City, José Mourinho, do Manchester United, e Arsene Wenger, do Arsenal, comerem poeira na tabela.

Referendado pelo sucesso em seus trabalhos anteriores, quando ressuscitou o esquema 3-5-2, então em desuso desde a conquista do Penta pela seleção brasileira, em 2002, ele resolveu agir de maneira semelhante. Nos tempos de Juventus, ele tornou a “Velha Senhora” imbatível na Serie A. Com a seleção italiana, transformou uma equipe desacreditada em uma “máquina de guerra”, como ele próprio descreveu, que atropelou a Espanha na Eurocopa.

No Chelsea, Conte começou a temporada no 4-1-4-1, mas após vários resultados adversos e partidas ruins, optou por alterar para uma variante do 3-5-2, sempre fincado no sistema de três zagueiros, do qual o italiano não abre mão: o 3-4-3.

Pedro é um dos coringas de Conte

São três defensores (Cahill, David Luiz e o improvisado lateral Azpilicueta), quatro meio-campistas (o atacante Moses de ala direito, o volante Kanté, os meias Fábregas ou Matic e o lateral esquerdo Marcos Alonso) e três atacantes (Hazard, que alterna entre meio e ataque pela esquerda, Willian ou Pedro, que fazem o mesmo pela direita, e o centroavante Diego Costa).

No ataque, o time se porta em 3-4-3, podendo virar 3-5-2. Na defesa, joga em 5-4-1 para “fechar a casa”.

Desde que ele adotou a formação, na vitória por 2 a 0 sobre o Hull City, em 1º de outubro, os Blues conquistaram a incrível série de  triunfos seguidos e só perderam um jogo no período (2 a 1 para o West Ham, pela Copa da Liga).

Mais impressionante: levando só quatro gols em todas estas partidas.

Além de melhorar o jogo coletivo, a nova tática resgatou a boa fase individual de diversos atletas, como Hazard, Diego Costa, Cahill e David Luiz, que vinham mal.

De nova, porém, a tática não tem nada. Ela era considerada “fora de moda” há muito tempo, desde que foi celebrizada pela seleção italiana campeã do mundo em 1982 – aquele mesma que eliminou o Brasil de Telê Santana no “Desastre do Sarriá”. Um time que Antonio Conte provavelmente assistiu pela TV aos 13 anos, na cidade de Lecce, onde nasceu. A provável squadra azzurra que o fez se apaixonar pelo futebol.

O esquadrão da Azurra de 1982 que inspirou Antonio Conte

Aquele time também atuava com três zagueiros: Gentile e Collovati (hoje emulados por Cahill e David Luiz), além de Scirea, que alternava posições, como faz Azpilicueta no Chelsea atual.

Depois, havia um quarteto de meio-campistas: Bergomi, Orialli, Marco Tardelli e Cabrini. Eles formavam a linha que hoje Conte monta com Moses, Kanté, Fábregas (ou Matic) e Marcos Alonso.

Depois, a frente era formada por Bruno Conti, que atuava como meia ou atacante pela direita, em função semelhante à feita nos Blues de hoje por Pedro ou Willian. Completavam a Itália de 1982 o atacante Graziani, cuja função hoje é de Hazard, e o centroavante Paolo Rossi, carrasco do Brasil e inspiração para Diego Costa.

E do “fundo do baú”, veio a tática que tornou o Chelsea imbatível na Premier League.

“Agora, depois de algumas vitórias seguidas, creio que cada time que jogar contra o Chelsea também tentará mudar sua formação para nos enfrentar. Isso aconteceu na Itália, quando eu estava comandando a Juventus. Temos que estar preparados para as mudanças de formação dos oponentes. Mas eles fazerem isso significa que têm grande respeito por nós”, decretou Antonio Conte, após o triunfo sobre o Bournemouth.

Análise

Uma breve analise do sistema de marcação do Chelsea

Não existem dúvidas do quanto a mudança de sistema fez do Chelsea uma equipe mais forte na Premier League. Não só os resultados comprovam isso, mas também o nível de desempenho apresentado pela equipe de Antonio Conte nos últimos jogos.

Se engana quem, no entanto, acha que o 3-4-3 foi um achado durante a campanha na competição. Durante amistosos de pré-temporada o treinador chegou a usar algumas variações pelo menos parecidas com a que vem fazendo sucesso na Inglaterra, inclusive usando o brasileiro Willian como ala pela direita em algumas situações.

Por não ter tido uma resposta tão esclarecedora naquele momento, Conte preferiu iniciar a temporada com uma linha defensiva de 4 jogadores (4-1-4-1), já que os atletas estavam muito mais habituados a esse mecanismo por conta dos trabalhos de seus antecessores.

A plataforma do 3-4-3 de Conte fica ainda mais interessante por ter um mecanismo de variação muito simples e efetivo. Sem a posse da bola, no seu momento defensivo, o Chelsea passa usar o 5-4-1. Pontas e alas recuam uma linha e fazem dos Blues uma fortaleza que raramente sofre infiltrações, principalmente pela região central do campo.

O que mais impressiona é a naturalidade para executar movimentos e variações em tão pouco tempo de trabalho do italiano. A criação de comportamentos novos, tanto individuais como coletivos, não é algo tão simples no futebol. Mas o nível de inteligência de jogo dos atletas se mostra muito elevado por conta dessa rápida absorção por parte do grupo. É um organismo totalmente adaptado ao modelo de jogo proposto pelo técnico.

A equipe também chama a atenção por conseguir alternar ritmo durante os jogos, podendo usar um jogo mais “proposto” ou mesmo se aproveitar de rápidas transições, muitas vezes com uma bola longa bem encaixada por seus zagueiros.

Sem dúvidas o novo sistema posicional da equipe tornou o Chelsea uma equipe com um nível coletivo muito forte. Mais que isso, fez com que individualidades também evoluíssem durante a temporada.

Os jogadores dizem que tem uma ‘confiança extra’ no Chelsea, mas não vêem o time como imbatível

Hazard, por exemplo, passou a ser outro jogador nas mãos de Conte. Após uma temporada bem abaixo do esperado com Mourinho, o belga tem sido um dos grandes jogadores da Premier League. Atuou até como referência no ataque no lugar de Diego Costa. Com liberdade para abusar do 1×1 e se movimentar por todo setor ofensivo, o camisa 10 também tem sido muito eficiente em suas obrigações defensivas.

Outro que cresceu muito foi David Luiz. Atuando centralizado ao lado de Cahill e Azpilicueta, o brasileiro tem sido peça importante na iniciação das jogadas, usando muito bem a sua qualidade no passe para sair rompendo linhas. Dentro de um sistema defensivo bem montado e também mais comedido em suas tomadas de decisões, David vem mostrando a qualidade que sempre teve, mas longe de lambanças que costumava protagonizar.

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